quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Crítica - Vestido de Noiva


Alaíde, uma jovem que é atropelada transita em três planos: Alucinação, memória e realidade - buscando a verdade. Enquanto tenta ser reanimada numa mesa de operação, Alaíde conhece uma mulher chamada Madame Clessi. Na confusão da mente de Alaíde, ela acredita ter matado o marido, Pedro. Depois ao descobrir ser isso uma alucinação, vê que Pedro e Lúcia sua irmã, vivem um caso extraconjugal. Os dois decidem matá-la e aí Alaíde vê que seu atropelamento foi premeditado. O texto de Nelson Rodrigues é considerado um marco no teatro moderno.
Nesta montagem, o próprio diretor Gabriel Vilella a define como um Baile Sinistro. De acordo com o diretor ele buscou uma montagem desencanada, sem se preocupar com outras célebres montagens do texto. O resultado é uma montagem que busca uma modernidade e uma releitura, que muitas vezes cai por incrível que pareça num arcáico teatro. A quantidade demasiada de se apagar o palco para troca de cenários e adereços contrasta com a busca da interpretação do texto e movimentação corporal contemporâneos de alguns personagens. A iluminação do espetáculo é confusa e muitas vezes complica a compreensão da sequência de cenas. A cenografia de J.C. Serroni é antiquada e muitas vezes sem utilidade. O sfigurinos do próprio diretor também confusos e sem uma linha de definição. Em relação ao elenco leandra leal se esforça para fazer uma Alaíde convincente, Marcelo Antoni e Vera Zimmermann ficam apenas na forma, Luciana Carnielli faz uma Madame Clessi com presença cênica e os demais do elenco cumprem bem seus papéis coadjuvantes. esta montagem de Vestido de Noiva, em termos de concepção cênica deixa a desejar no que diz respeito ao conceitual necessário à um trabalho rodrigueano.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Crítica - Náufragos

A dor e a comicidade de dois errantes perdidos no labirinto da própria mente. Náufragos, premiado texto do autor italiano Máximo Bavastro, estréia no Brasil dirigido por Alessandra Vanucci e uma produção ítalo-brasileira.
Dois sugeitos cômicos e trágicos (interpretados por Nicola Lama e Marcelo Aquino) que passam a vida entrando e saindo de clínicas de recuperação, resolvem autonomear-se Don Quixote e Sancho Pança e desbravar a cidade do Rio de Janeiro, e assim enfrentar todos os monstros e medos de toda uma vida.
Alessandra Vanucci revestiu a montagem de modo clownesco incorporando a platéia ao espetáculo: um truque ingênuo e as vezes massante. As cenas do espetáculo se alongam as vezes de forma demasiada, causando um descompasso entre a imagem e a palavra. Nicola Lama se destaca pelo trabalho corporal perfeitamente executado e Marcelo Aquino, através da pantomima, transmite a dimensão da fantasia desesperada pela e da falta da razão indicada pela sua personagem. A música de Paolo Vivaldi, composta para o espetáculo é forte e com dramticidade oportuna.
Enfim Náufragos é uma peça que alterna bons e maus moentos, mas que a vale a pena ser conferida pela integridade artística que se dispõe cenicamente.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Crítica - O Especulador

Um dos maiores autores de todos os tempos, Balzac escreveu 90 romances, que constituem A Comédia Humana, mas apenas um texto teatral, "Le faiseur", traduzido e adaptado por João Bethencourt, ora em cartaz no Teatro Sesi com o título "O especulador". Contando com direção de José Henrique, a peça chega à cena com elenco formado por Élcio Romar (Augusto Mercadet), Nedira Campos (Alice Mercadet), Brunella Provvidente (Julia Mercadet), Vinicius Brambilla (Minard), Mouhamed Harfouch (De La Brive), Bruno Ganen (Goulart), Marcio Ricciardi (Méricourt), Sérgio Fonta (Verdelin), Pietro Mário (Brédif), Ricardo Leite Lopes (Violette), Vitória Furtado (Teresa), Luciano Borges (Justino) e Rubens Araújo (Berchut).Ambientada em Paris, em 1839, a peça gira em torno de dois temas: as imensas dívidas do especulador Augusto Mercadet e seus desesperados esforços - jamais éticos - de quitá-las, e que vão desde a tentativa de casar a filha com um homem de posses até as mais desvairadas artimanhas para enganar credores e conseguir fundos. No entanto, mais do que apenas centrar sua trama no caso específico de um homem, na verdade Balzac faz uma divertida e feroz crítica aos valores burgueses, atacando com o mesmo furor dois de seus maiores predicados: a ganância e a hipocrisia. O numeroso elenco não tem grande destaqe indivudual e deixa uma sensação de que poderia ter explorado muito melhor as boas e divertidas marcas impostas pelo diretor. Alguns atores inclusive passam despercebidos em cena. Na equipe técnica, o acerto é geral - cenografia de José Henrique, figurinos de Lola Tolentino e iluminação de Rogério Wiltgen. Em suma a peça carece de um elenco mais afinado. É certo de que se poderia ter alcançado um melhor resultado.

Crítica - As Noivas de Nelson

A peça reúne 5 contos de A vida como ela é, coluna que Nelson manteve no jornal carioca Última Hora ao longo dos anos 50: Excesso de trabalho, Delicado, O sacrilégio, O pastelzinho e Feia demais. Todos envolvem as ideias de casamento e morte, refletidas nos fúnebres figurinos e cenário de Juliana Fernandes e na maquiagem de Edivaldo Zanotti, com todo o elenco caracterizado como defunto. Os dez atores se revezam entre dezenas de personagens, saindo-se, em geral, muito bem, tanto nos papéis importantes quanto nos que são meras figurações. Mesmo quando os atores encarnam “personagens” sem fala e com cerca de apenas um minuto em cena.
O ritmo do espetáculo, como um todo, é vertiginoso, mas a plateia nunca fica cansada. Braz, o diretor, soube explorar o que cada ator tem de melhor em potencial, alternando momentos em que todos se destacam ao mesmo tempo, com brilhos individuais em determinados momentos.
As Noivas de Nelson, da Cia. Paulista de Artes é um espetáculo engraçado e muito interessante, que vale a pena ser assitido por uma platéia atenta e que procure não perder nenhum momento.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Crítica - Festa de Família

Com direção de Bruce Gomlevsky e adaptação teatral de David Eldridge, a peça Festa de Família é uma transposição do filme homônimo do dinamarquês Thomas Vinterberg, um dos criadores do movimento chamado Dogma 95, que trouxe, em 1995, uma nova proposta estética à linguagem audiovisual.A trama acontece na festa de aniversário do patriarca de uma tradicional e rica família. Durante a comemoração, segredos familiares vêm à tona e surpreendem os convidados com revelações que mudarão para a sempre a vida dos presentes.
A direção de Bruce Gomlevsky mostra uma tentativa de transposição da linguagem cinematográfica para o teatro, o que não conseguiu. O conflito entre as linguagens é gitante no espetáculo, não conseguindo passar as duas etapas de ação do texto, deixando quase sempre a impressão de que as cenas não foram acabadas. Uma gritaria exacerbada, na busca de um ritmo também não conseguido, chega a ser irritante e demasiado estranho para a platéia. A cenografia de Bel Lobo é antiquada. Os figurinos de Flávio Souza não tem nada de Escandinávio. A direção musical de Marcelo Alonso Neves não consegue dar clima as cenas da peça. Salva-se na parte técnica da peça é eficiente iluminação de Maneco Quinderé. O elenco composto por Julia Carrera, Walney Costa, Otto Jr., Risa Landau, Teresa Foumier, Joelson Gusson, Peter Boos, Christovam Netto, Carolina Chalita, Ricardo Damasceno, Leonardo Corajo, Carlos Veiga e Júlia Limp Lima e Bruce Gomlevsky, não consegue uma individualização de seus personagens, talvez pelos corte abrubtos da encenação que inelizmente é muito insatisfatória.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Crítica - De Corpo Presente

Com direção e texto de Mara Carvallio, a comédia De Corpo Presente fala sobre a falta de comunicação nas relações humanas, principalmente com afetos perdidos ao longo da vida. O tempo da narrativa não é linear e a ação transita entre passado e presente.O enredo se passa em um velório, no qual familiares se reencontram. Ao relembrar fatos do passado e falar do presente, diferentes versões dos acontecimentos vêm à tona e antigos segredos e conflitos são revelados.
A direção não tem a pretenção de inovar em nada e muito menos marcar época no teatro, simplesmente conduz com naturalidade a trama e consegue bons momentos em algumas cenas. Talvez o espetáculo careça de um pouco mais de elaboração nas cenas, o que faria com que a peça ganhasse e muito. O elenco composto por Cristina Prochaska, Blota Filho, Mara Carvallio, Carlos Martin, Patricia Batitucci, Alexandra Martins, Murilo Salles e Mariana Bassoul está bem razoável na trama e se saem bem de certa forma. A parte cômica da peça fica a cargo de Mara Carvalho com sua argentina bem concebida sem os esteriótipos rídiculos que se costumam ver em determinados personagens gringos com seus sotaques ridículos. A iluminação de Maneco Quinderé é simples e funcional, o figurino de Patrícia Biaggioni e a trilha sonora de André Frateschi o são da mesma forma. Enfim uma montagem simples e razoável que vale a pena ser conferida.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Crítica - Estranho Casal


Com três temporadas na Broadway e 922 montagens internacionais, o espetáculo Estranho Casal chega ao Brasil com um elenco formado por oito atores, entre eles Carmo Dalla Vechia e Edson Fieschi. A montagem brasileira da premiada peça de Neil Simon possui tradução assinada pelo autor Gilberto Braga e direção de Celso Nunes. No palco, Felix, um jornalista obcecado por limpeza, é expulso de sua casa por sua esposa e passa a morar com seu amigo recém-divorciado, Oscar, um comentarista esportivo desleixado e bem sucedido. Eles imaginam que a convivência seria fácil e que poderiam seguir a vida de solteiro normalmente. Mas descobrem que seus temperamentos são completamente diferentes. Assim, o convívio desse estranho casal torna-se insuportável, pois, enquanto Oscar é um bagunceiro incorrigível, Felix é exatamente o oposto.
O diretor Celso Nunes armou a cena de maneira tradicional, como convém ao material disponível. O cenário de José Dias compõem bem a cena , uma iluminação muito boa de Paulo César Medeiros, figurinos adequados de Ney Madeira e completando a parte técnica bem executada, trilha sonora de Billy Forghiere é apropriada. Os destaques na interpretação do elenco ficam por conta de Bel Garcia e Susana Ribeiro que provocam risos na platéia com seus sotaques mutito interessantes. o rstante do elenco, Marcos Archer, Leonardo Netto, Marcelo Várzea e Rogério Freitas, não conseguem muito destaque em cena, mas mantêm um harmonioso conjunto; Edson Fieschi se ressente da uniformidade do seu personagem e Carmo Dalla Vecchia faz um malandro com agilidade física e verbal, mas seu personagem precisa ser um pouco mais trabalhado nas nuances que poderia ser mais bem aproveitadas. Uma montagem regular, mas que com alguns acertos pode-se tonar um bom trabalho teatral.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Crítica - Decameron

Adaptada da obra homônima do italiano Giovanni Boccaccio, a comédia Decameron - A Arte de Fornicar aborda de maneira irreverente os comportamentos humanos, as paixões, a infidelidade, a sedução e as trapaças sexuais. O clássico apresenta o cotidiano de pequenos comerciantes e artesãos, cujas esposas usam truques e espertezas para fazer conquistas amorosas, mas sempre tentando preservar a imagem da família. 
Com uma linguagem cômica e satírica, o texto ganha atualidade e traz divertidas histórias. No palco, o público se depara com freiras devassas que realizam "milagres" sexuais, uma esposa traiçoeira com habilidade para negócios, um fugitivo maroto que tenta trapacear, jovens amantes, um criado que perde a cabeça por amor, entre outros personagens.
A direção é de Otávio Müller, que se baliza pela tradição popular, mas em nenhum momento cai na tentação do popularesco, tão pouco na vulgaridade. O cenário de Vera Oliveira facilita a agilidade das cenas. A luz de paulo Denizot não acompanha ao rítimo intenso do espetáculo, além de estar sendo operada com muita insegurança, deixando que acontecesse vários erros em cena. O figurino de Cassio Brasil é muito bem cuidado. As músicas compostas por Zéu Brito se encaixam perfeitamente na alegria da montagem. A trilha sonora de Caíque Botkay da mesma forma. o espetáculo é estrelado por Fabiana Karla (que confere a seu personagem boa atuação, emprestando-o e servindo-o desejos ardentes), Marcos Oliveira (figura caricatural bem construída), Bel Kutner (está ótima em cena), George Sauma (muito a vontade em seu personagem), Zéu Britto (seu personagem está bem próximo da chanchada), Jô Santana, Claudia Borioni, Isabel Lobo e Hossen Minussi (todos desenvolvendo muito menos seus personagens). 

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Crítica - Isaurinha

Protagonizado pela atriz Rosamaria Murtinho, o musical Isaurinha - Samba, Jazz e Bossa Nova mistura teatro, show e cinema para mostrar a trajetória da rainha do rádio Isaurinha Garcia. A peça retrata vários momentos da carreira da cantora, desde sua descoberta nos programas de calouros até seu glorioso apogeu. 
Ao lado de 18 atores e bailarinos, Rosamaria Murtinho interpreta os grandes sucessos de Isaurinha que fizeram parte do período áureo do rádio brasileiro entre as décadas de 40 e 80. Idealizado e produzido pelo ator Rick Garcia, neto da cantora, o espetáculo apresenta uma personalidade passional, explosiva e frágil de uma artista guiada pelo amor e pelas grandes paixões. 
O primeiro e maior erro desta montagem (ou seria remontagem: Rosamaria viveu a personagem em 2003) é querer aqpresentar um musical (afinal é a moda do momento) e não uma biografia, como manda o texto original. Por querer um musical foi contratado para a direção do espetáculo um Coreógrafo, Sylvio Lemgruber, e o que se vê é um excesso de atenção para a dança, com bailarinos entrando a todo o momento para executarem coreogrsfias sem o menor porque, enquanto texto e ainterpretação dos atores fica em segundo plano e muito precários.
A inserção de alguns vídeos com efeitos visuais, não têm qualquer ligação com a ação cênica, servindo apenas de pano de fundo para os bailarinos, que há de se ressaltar, utilizando figurinos que não possuem qualquer "brasilidade", parecendo mais de musicais americanos de décadas passadas.
Salva-se no espetáculo a interpretação de Rosamaria Murtinho (apesar de ser também prejudicada em alguns momentos por seus interlocutores. O elenco é todo fraquíssimo.) e a música, que leva a direção musical de João Paulo Mendonça.
Isaurinha Garcia, a gloriosa, merecia uma montagem com um acabamento muito mais sofisticado e glamouroso, que a montagem em questão.

Crítica - É a Mãe

Com texto de Ana Velloso e Vera Novello, a comédia É a Mãe apresenta situações comuns a todas as mães. No palco, 20 personagens mostram o cotidiano de diversos tipos de mulheres que têm que administrar as várias funções da vida. 
Entre as mães e filhas que aparecem na peça estão as personagens dos contos de fada e a Virgem Maria. Branca de Neve e Cinderela, por exemplo, mostram como é difícil ser criada por madrastas detestáveis, enquanto a Chapeuzinho Vermelho aparece como a filha que teve que cuidar da própria mãe. 
O espetáculo também aborda os clássicos tipos de mães, como a judia controladora, a popular sogra nordestina e a executiva bem sucedida. O público também participa da comédia em um programa de treinamento para futuras mamães.

A intenção do texto é fazer rir pelas questões já conhecidas do cotidiano, e isso faz com que que o texto não esteja muito bem elaborado. A maioria das esquetes são muito longas e não atingem o ritmo necessário, tornando-se bastante cansativas. Muitas mudanças desnecessárias de figurinos e adereços de cena, quebram em vários momentos a fluência do espetáculo.
O que deve ser enfatizado é que é na interpretação do elenco que a diretora Ana Velloso consegue melhor êxito, possibilitando que cada uma das atrizes (Ana Paula Botelho, Ana Velloso, Stella Maria Rodrigues e a própria Vera Novello) explorem as características que têm de melhor: a vocação para o homor.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Crítica - Ainda bem que foi agora

Com direção de Marcelo Saback, a peça Ainda Bem Que Foi Agora aborda com humor o relacionamento de um casal acima dos 30 anos. No palco, Olavo e Anita discutem o relacionamento mantido há muitos anos. 
Os encontros e desencontros do casal interpretado por Carlos Vieira e Andréa Mattar não seguem uma ordem cronológica dos fatos e trazem questionamentos comuns a todos os casais. Durante o espetáculo, a chamada quarta parede do teatro é rompida e o público participa da discussão do casal. 
O texto, de humor super inteligente e com ótimas sacadas, é dos competentes e jovens autores Julia Spadaccini e Rodrigo Nogueira.
O diretor utiliza em vários momentos recursos cinematográficos conseguindo muito êxito na questão.
Com uma grande precisão, os vídeos de Miguel Oliveira, transportam a cena e ambientação para a rua, obtendo momentos bastante interessantes. A Luz de Francisco Rocha é correta e cria um clima de naturalidade bem proposital à encenação. Os figurinos de Ney Madeira calham bem com o casal que é tipicamente de classe média carioca.
A interpretação dos atores consegue uma leveza, sem cair na banalidade. Em nenhum momento caem na armadilha da platéia de fazer o riso pelo riso. Tudo na peça tem um porque. Atingindo um humor inteligente e refinado.
Em síntese, o Teatro Cãndido Mendes que vinha tendo comédias fraquíssimas e com textos bizarros, volta a ter uma boa comédia e que vale muito ser assistida.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Crítica - Pessoas

O Marinheiro, O Jardim do Palácio, Salomé e a Morte do Príncipe. Estes quatro dramas estáticos compõem o novo espetáculo da Cia. Atores de Laura, que leva a direção de Susanna Kruger. A diretora criou quatro pequenos espaços, onde cada ator (Verônica Reis, Luiz André Alvim, Marcio Fonseca e Adriana Schneider) interpreta um dos textos de Pessoa. Através desta partitura , a diretora propõe uma instalação cênica onde a platéia tem a possibilidade de escolher qual ator ela vai  assistir primeiro e assim sucessivamente. Podendo inclusive assistir ao mesmo texto com atores diferenetes, ou deixar de assistir uma encenação no meio indo para outra que mais lhe interessar, já que a cada final de texto, os atores se despem do figurino e se vestem novamente indo para o outro espaço para encenação do próximo texto.  Os atores falam seu texto ao mesmo tempo e em determinado momento um ator levanta o volume de voz, buscando pra si a atençaõ da platéia.

A proposta da diretora em fazer com que o público ouça e capte vários textos ao mesmo tempo e possa absorver o que de mais importante tem em cada um , ao contrário da salvaguardar a integridade de cada texto por vez, é interessante. O grande problema é que na prática isto não é atingido. O que se vê é uma junção de informações que se misturam impossibilitando uma maior absorção destas narrativas, desvalorizando desta forma o que o espetáculo "Pessoas" poderia ter de melhor: o texto, já que a diretora fez a opção por uma encenação praticamente estática. É louvável o belo biombo que é utilizado encobrir a imagem do ator, sendo permissível apenas ouvir a sua voz, mas é de um péssimo gosto o momento em que um ator manda o texto sovando uma massa de pão. A Cenografia e figurinos de Ronald Teixeira e Leobruno Gama são interessantes e a iluminação de Aurélio de Simoni deixa o ambiente apropriado. 

Em resumo o espetáculo Pessoas passa uma idéia de que falta algo. Como se tivesse saído do forno antes da hora. Inacabado.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Crítica - Cyrano de Bergerac

Autor dramático francês, Edmond Rostand (1868-1918) especializou-se em escrever dramas românticos em verso. Mas de seus sete textos, apenas dois ainda são encenados com relativa frequência: "L'Aiglon" (1900), que estreou protagonizado por Sarah Bernhrardt, e sobretudo "Cyrano de Bergerac" (1898).
"Cyrano de Bergerac",está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim. A tradução é do poeta Ferreira Gullar, que também assina a adaptação. A direção é de Renato Carrera. No elenco, Oddone Monteiro (Cyrano), Márcia Méll (Roxana), Rodrigo Phavanello (Cristiano), Ricardo Tostes (Ragueneau), Breno Pessurno (De Guiche), Eduardo Salles (Le Bret), Heitor Cassiano (Valvert/Cadete), Bruno Seixas (Lignière/Cadete), Thalita Rocha (Lise/Irmã Marta), Fátima Esteves (Aia/Madre), Antonio Rossano (Montfleury/Capuchinho/Cadete), Luciana Cazz (Cuigy/Cadete), Márcio Maia (Carbon), Felipe Bondaroski (Cadete) e Bruno Barros (Bellerose/Cadete).
Tudo no espetáculo é questionável com excessão da bela tradução e adaptação de Ferreira Gullar. O mínimo que se necessita para se interpretar um texto deste porte é de um elenco que consiga ao menos falar com naturalidade um texto em verso, pois ao criar o texto desta forma, a intenção do autor era dar a trama uma carga emocional cheia . Rostand escreveu uma peça de teatro, com ótimos personagens e ações absolutamente convincentes.
No entanto, o despreparo dos atores é tamanho que além de não conseguirem conferir um mínimo de credibilidade aos papéis que interpretam, ainda por cima erram o texto a todo momento, como principiantes na iniciação teatral.
Renato Carrera tem uma direção completamente bagunçada, com os atores começando a peça aos gritos no meio da platéia sem um mínimo de porque. Quando vão para o palco em raro momento a situação fica diferente. Estética de cena simplesmente não existe, atores em todo o momento fora do foco principal, ou seja praticamente o que se observa é uma não direção em cena. O elenco é fraquíssimo. A cenografia e figurinos podem ser considerados corretos e a iluminação é básica e pouca aproveitada pela direção. Em resumo, o texto de Rostand que é considerado uma obra-prima, carece urgente neste espetáculo em questão de uma melhor matéria-prima. 

terça-feira, 5 de maio de 2009

Crítica - Clownssicos

O programa do espetáculo Clownssicos, da Cia. do Giro,diz que no espetáculo, uma companhia de clowns decide montar grandes clássicos da literatura mundial para mostrar que não lida somente com temas "medíocres" que suscitam o riso. 
Assim, os personagens revelam toda a sua capacidade interpretativa em uma montagem contemporânea que resgata os dramas e as tragédias vividos por Édipo, Jocasta, Medéia, Romeu e Julieta, Hamlet, Ofélia, Macbeth e sua Lady, François e Nicole, Masha e Medvedenko. 
Para fazer uma ligação entre o cômico e o trágico, a montagem vale-se da metalinguagem, "o teatro dentro do teatro".


Doce Ilusão, o que se vê são atores (Adriano Basegio, Daniela Carmona, João Pedro Madureira, Larissa Sanguiné, Laura Leão, Leo Maciel) destruindo completamente os maiores clássicos mundiais, desmoralizando e ridicularizando toda uma cultura teatral calcada no que é bom.
Não dá pra entender o porque desta montagem chula e mal feita em todas as duas intenções e nuances.
A peça não traz nada de novo, interessante, crítico e relido (o que é basico num clown).
Qualquer espectador que não conheça os grandes clássicos, o que infelizmente no Brasil é uma verdade, sairá deste "Clownssicos", completamente decepcionados com os "GRANDES" Sófocles, Tchekcov, Shakespeare, etc... Estes autores seram entendidos como se escrevessem apenas banalidades, boçalidades e bizarrices idiotas e infundadas.
Uma forma apelativa e infundada de encenação do início ao fim do "Espetáculo". Na verdade um erro grotesco da diretora e autora da peça Daniela Carmona, que também no programa, se gaba de ter estudado com os grandes mestres da arte clownesca. Parece não ter entendido nada que estudou.
Enfim em todo o conjunto do trabalho só existe uma palavra a defini-lo: LAMENTÁVEL.

sábado, 2 de maio de 2009

Crítica - Cachorras Quentes


Com texto de Luis Carlos Góis e direção de Marcus Alvisi, o espetáculo Cachorras Quentes fala sobre os problemas do universo de duas amigas roteiristas hipocondríacas e que sofrem de uma síndrome de perseguição exacerbada. As duas dividem o mesmo apartamento no leblon e estão envoltas com a necessidade de entregar um roteiro para um programa de tv no qual trabalham.
Paralelamente, mais três histórias são desenvolvidas: Vanusa (Gianne), uma professora de boas maneiras, endividada e com uma longa trança, que deixa arrastar no chão como o carma de sua vida. Já a romântica e solitária Virnalise (Letícia) vê sua vida mudar ao assistir, pela janela de seu apartamento, uma cena reveladora. As irmãs hipocondríacas Iracêmia (Gianne) e Irênia (Letícia) dividem o leito do hospital e competem pelas piores doenças, na disputa pela atenção de todos. As emoções do enredo oscilam entre o drama e a alegria que as mulheres partilham entre si e que os homens desconhecem.
Tudo estaria em perfeita ordem se a peça fosse um espetáculo de esquetes distintas e não se tentasse uma conecção entre as cenas e as duas roteiristas citadas inicialmente. O que se vê é um emaranhado de cenas sobrepostas numa confusão cênica que torna impossível uma sequência lógica do enredo. Se houve alguma pretensão de se obter uma relação com os filmes Robert Altman, não se conseguiu. os cortes bruscos citados no programa do espetáculo não ficam bem resolvidos. A iluminação de Carlos Lafert e de Alvisi é básica e não ajuda em nada o ambiente a que se propõe o espetáculo, o cenário de Clívia Coen é confuso e não delimita bem os espaços/lugares onde se passam as cenas, os figurinos de Bettine Silveira são funcionais e a trilha sonora de Alvisi não personifica nenhum momento as cenas.
O que realmente se salva são as interpretações de Gianne Albertoni e Letícia Isnard que defendem muito bem seus personagens e conseguem tirar boas gargalhadas da platéia. 
Talvez o espetáculo Cachorras Quentes deveria ser revisto por autor e diretor, provavelmente consega melhores resultados caso isso aconteça.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Crítica - Farsa da boa preguiça

Ariano Suassuna , autor de "Farsa da boa preguiça," dispensa apresentação, mas nunca é demais ressaltar que o trabalho do romancista e dramaturgo é uma das mais importantes referências da literatura brasileira. Fundador do “Movimento Armorial”, Ariano tem sua obra permeada por valores e personagens da cultura popular nordestina e de clássicos da literatura universal. O autor dos célebres “O Auto da Compadecida” e “A Pedra do Reino”, é o poeta das raízes mais fundas da nacionalidade, um defensor militante da cultura do Nordeste, tendo sido comparado a Dante e Cervantes.
"Farsa da boa preguiça ", narra a história de Joaquim Simão (Guilherme Piva), poeta de cordel, pobre e "preguiçoso", que só pensa em dormir. Joaquim é casado com Nevinha (Daniela Fontan), mulher religiosa e dedicada ao marido e aos filhos. O casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão (Ernani Moraes) e Clarabela (Bianca Byington), possui um relacionamento aberto. Aderaldo é apaixonado por Nevinha e Clarabela quer conquistar Joaquim Simão. Três demônios fazem de tudo para que o pobre casal se renda a tentação e caia no pecado, enquanto dois santos tentam intervir. Jesus observa e avalia tudo. A partir daí, situações inusitadas e muito divertidas fazem deste texto uma das peças mais divertidas do teatro brasileiro.
A encenação de João da Neves é sem dúvida a melhor que "Farsa..." já teve. O conteúdo de cada história fica bem claro, da forma que Suassuna concebeu. O diretor foi perspicaz ao ressaltar a qualidade do texto durante toda a peça, mantendo a peça em tom festivo o que aproxima e muito a platéia do espetáculo. A luz de Paulo César medeiros, a cenografia de Ney Madeira e os figurinos de Rodrigo Cohen se equilibram e ressaltam o clima festivo e nordestino da peça. Também estão perfeitas a movimentação cênica dirigida por Duda Maia, a direção de mamulengos de Gil Conti e a preparação vocal de Carol Futuro. 
O elenco formado por Guilherme Piva, Daniela Fontan, Bianca Byington, Ernani Moraes, Leandro castilho, Vilma melo, Flávio Pardal e Francisco Salgado, estão absolutos no universo de Suassuna e passam uma alegria imensa na interpretação de seus personagens. Vale muito a pena assistir este espetáculo simplesmente maravilhoso.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Crítica - Play

 Inspirada no filme "Sexo, mentiras e videotape", de Steven Soderbergh, a peça "Play" tem direção de Ivan Sugahara,que cada vez mais aproxima seu teatro com bases e bebendo na fonte do cinema. O texto é assinado por Rodrigo Nogueira, que também atua no espetáculo ao lado de Maria Maya, Jonas Gadelha e Daniela Galli. O cenário e os figurinos, bem simples dando idéia de um despojamento intencionado, são de Rui Cortez. A luz de Renato Machado é correta e propõe claramente a rotina do dia a dia das personagens. Maria Maia e Rodigo Nogueira exageram um pouco e passam do ponto na interpretação, enquanto Jonas Gadelha e Daniela Galli estão mais contidos e aproveitam bem as buances das personagens.

No palco, Ana (Daniela Galli), Cíntia (Maria Maya) e João (Rodrigo Nogueira) reproduzem o triângulo amoroso retratado no filme. João é casado com a reprimida Ana, mas trai a mulher com a sensual cunhada Cíntia. É quando chega Jonas (Jonas Gadelha), o amigo de João que vai desestabilizar as relações. Se no filme de Soderbergh ele era um homem que gravava mulheres por não conseguir mais manter relações sexuais "ao vivo", em "Play", Jonas grava mulheres por ser um artista que está fazendo um projeto. Um projeto que se confunde com a realidade de cada um dos personagens.

Em cena, cinco vídeos são exibidos num telão: duas atrizes desconhecidas, uma mulher anônima e as personagens Ana e Cíntia relatam momentos de intimidade que tiveram em suas vidas. A constante variação entre verdade e mentira cria um jogo instigante entre palco e plateia, em uma brincadeira na qual todos são jogadores - inclusive quem assiste.

O espetáculo faz uma alternância entre cenas  curtas e outras longas demais e se ressente de uma maior consistência de estrutura cênica, já que em alguns momentos muito interessantes se perdem num todo, com algumas cenais banais, que poderiam ser exploradas de uma forma bem mais interessante.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Crítica - Sobre o Suicídio

Dirigida e escrita por Luiz Fernando Lobo a partir de ensaio homônimo de Karl Marx, a peça Sobre o Suicídio traz mais uma encenação da Companhia Ensaio Aberto sobre um tema tabu. 

Como no texto de Marx, o espetáculo aborda quatro casos reais de suicídio: a mulher tratada como propriedade do marido, a suposta perda de virgindade antes de casamento, o aborto e o desemprego. 

Extraído do programa do presente espetáculo, este texto ilustra bem a postura de Karl Marx sobre um tema tão polêmico quanto desconcertante. Mas vale a pena citar um outro fragmento, também inserido no programa, que talvez contribua, entre outras coisas, para que o espectador possa entender as premissas essenciais que levaram a Cia. Ensaio Aberto a teatralizar o referido texto: O suicídio é significativo.

O espetáculo trata sobre temas muito pertinentes para os dias atuais e com certeza o espectador ao sair do teatro se questionará em relação ao que pensa sobre o suicídio, se concorda ou não. Se é um fato natural ou não na cosiedade atual.

O elenco formado por Fernanda Avellar, Françoise Berlanger, Tuca Moraes e Luiz Fernando Lobo está muito bem em cena e  muito consciente nas ações cênicas.

Na equipe técnica, Felipe Radicetti assina ótima direção musical e trilha original, cabendo ainda destacar os surpreendentes vídeos de Batman Zavareze e Fabio Ghivelder, a expressiva iluminação de Jef Dubois, os austeros figurinos de Beth Filipecki e Reinaldo Machado, e a ótima tradução de Rubens Enderle e Francisco Fontanella.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crítica - Alzira Power

A relevância deste texto de contestação que marcou uma época, e sua força teatral resiste muito bem à passagem do tempo, afinal desde que foi escrito já se passaram quatro décadas.. O segredo, é claro, está no fato de Bivar não ter optado pelo didático (tão em moda naquele tempo), mas, sim, por uma ação e personagens que dispensam explicações ou mensagens: o poder de Alzira se revela em termos da realidade — devidamente teatralizada e desmedida — das incontáveis Alziras aposentadas e solitárias, reprimidas e condicionadas desde o berço a obedecer ao mundo dos homens. Aliás o comentário final do texto a respeito do que a platéia vê e ouve continua mais do que válido.

A pesar das limitações do espaço, a direção o utiliza bem com uma boa disposição cênica. O cenário de Teça Fichinski cria todo um apartamento em perfeita sintonia com a vida e o temperamento da protagonista, e os figurinos, também seus, completam a unidade do todo. É boa a iluminação de Paulo David Gusmão, e muito boa a trilha de Caíque Botkay

A direção de Gustavo Paso é orientada pelo tom de Bivar (autor do texto) e explora bem a luta pelo poder entre Alzira e Ernesto, tudo sempre em uma calculada dimensão acima do real, de modo a aproveitar bem o que o texto lhe oferece.

Cristina Pereira explora bem os delírios ressentidos de "Alzira" com suas repentinas mudanças de tom e ritmo, que em última análise deixam claro que tudo o que faz ainda é pouco para expressar o ressentimento de toda uma vida de obediência e opressão; e Sidney Sampaio, da o tom certo para seu personagem, não servindo apenas de escada para Alzira. 

Alzira Power, mesmo sendo escrita num período de ditadura, mostra que está muito atual e deve ser vista por todos, mesmo os que não viveram aquela época.

Crítica - A Mais Forte, Estruturada

August Strindberg é o criador do expressionismo e do teatro intimista. Através de seu texto forte, inteligente e cheio de informações nas linhas e entrelinhas vai construindo a história de forma a nos seduzir em cada detalhe citado. Não nos permite se quer uma distração. Impossível não ficar vidrado em sua narrativa. 
Em "A Mais Forte, Estruturada", adaptação do texto "A Mais Forte" de August Strindberg, com estrutura e direção de Márcio Zatta, o que se vê é um belo exemplar do teatro intimista e expressionista citado acima.
A peça conta a história de duas mulheres (Senhora X e Senhorita Y) que disputam o amor do mesmo homem. O interessante é que cada uma faz isto da sua forma. Enquanto a "Senhora X" usa de toda a sua forma expansiva e ativa lutando palmo a palmo pelo amor deste homem, tentando diminuir e humilhar a outra durante todo o tempo com palavras pesadíssimas, a "Senhorita Y" permanece calada, intacta, de forma passiva e em momento algum ataca a outra. Ao final o que se pergunta é quem é a mais forte da história? Qual o melhor caminho a se seguir pelo o amor de um homem? Atividade ou passividade? Na adaptação, o diretor acrescentou alguns textos sobre religiosidade e distúrbios que são falados no inícioda peça pelos atores ainda fora dos personagens, porém criando uma relação destes textos com os personagens ao longo do espetáculo.
Quando se entra no teatro o que se vê são atores em trabalho de concentração e aquecimento e uma série de adereços de cena espalhados pelo palco, dando uma idéia de que a peça será montada diante da platéia. Aos poucos os atores vão arrumando cenário e adereços em seus devidos lugares para darem início ao trabalho cênico. A partir daí o que se vê são atores muito bem preparados fisicamente e muito bem dirigidos em cena. Os atores Otto Caetano, Cinthia Travassos e Diego Sant' anna que interpretam a Senhorita Y são de uma precisão de movimentos dignos de uma parada militar chinesa. Apanhando objetos de cena como copos, garrafas, pedras e até alimentos todos ao mesmo tempo, sem nenhum erro se quer.  Além de sua expressõe faciais em relação ao texto serem identicas e também sincronizadas. As duas atrizes que interpretam a Senhora X imprimem momentos bem distintos para a personagem, no início Andréa Duat dá um tom de tranquilidade para personagem colocando bem o seu texto em cena, mas é quando a atriz Helen maltasch entra em cena que a peça ganha uma força cênica estrionica, numa mistura de texto perfeitamente bem colocado e sentido com um trabalho de expressão corporal invejável introduzindo passos de balet que deram uma beleza plástica para a cena pouco visto no teatro carioca. 
A concepção cênica do diretor Márcio Zatta é única e bem disposta cenicamente. E o que é ainda mais interessante é que um tipo de teatro ainda não visto por aqui, tem um estilo próprio, arrojado e corajoso. Os figurinos de Otto Caetano e do próprio Zatta são lindíssimos e dão um ar gótico as personagens. A luz de Diego Sant' anna é simples, funcional e privilegia o trabalho dos atores. A ambientação cênica é em cima do teatro minimalista de Grotowsk com pouco cenografia o que é ótimo para a movimentação cênica. 
Enfim, "A mais Forte, Estruturada" é um excelente trabalho de uma Cia. nova "O Teatro da Estrutura" que parece saber muito bem seu potencial e onde pode chegar.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Crítica - O Filho da Mãe

Regiana Antonini mantém a fama de comediógrafa durante toda a sua carreira de autora no teatro. 
No espetáculo "O Filho da Mãe", a mulher é abandonada pelo marido e tem que se vrar por conta própria. Bordão mais antigo não existe. 
O humor fácil do espetáculo em detrimento ao humor inteligente derruba toda a trama e torna a peça completamente cansativa e desinteressante.
O diretor do espetáculo, João Camargo caiu na armadilha de simplesmente deixar Regiana atuar da maneira que ela é no dia a dia, expansiva, maximizada e tomando conta de toda a cena. Pedro Nercessian fica num plano secundário, completamente apagado pela impoNência exagerada de Regiana.
Fraquíssima a história, com figurinos, luz e cenário mediocres.

Crítica - Espia uma mulher que se mata

Espetáculo baseado no texto Tio Vânia, de Tchecov despreza o que famoso autor tem de melhor: os meios tons, pausas significativas, silêncios medidos, entrelinhas de sentimentos e muita melancolia. 
O diretor argentino Daniel Veronese, parece não achar interessante todas estas máximas que compõem os textos de Tchecov, parece pensar que tudo o que já foi dito da obra do russo, seja uma inverdade. 
No espetáculo o teatro de Tchecov é mais usado como referência de método do que contextualidade.
O diretor exagera tanto em gritos e expressões que quase chega ao patético, nesta versão nada convencional de Tio Vânia.
O cenário de tapadeiras fingindo portas demonstra o total interesse em facilitar o transporte num objetivo de sucesso comercial.
Atores cumprem o que a direção se dispõe e se entregam de forma total. Infelizmente esta montagem superficial de um texto tchecoviano deixa muito a desejar do tão aclamado autor russo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Crítica - Clandestinos

Entramos no teatro Glória, os atores já estão em cena, mesmo antes da peça começar. O cenário que deixa as estruturas do teatro à mostra e explora diversos níveis do palco, é composto de muitos instrumentos musicais e uma parede imensa toda rabiscada. Este ambiente juvenil, com grafismos modernos, nos remete ao cheiro da urbanicidade, o local da fama, do caldeirão cultural, do movimento, da oportunidade, do sonho, das tendências, mas também da solidão, da competição, da desigualdade, da diferença, da frustração, da espera, da espera, da espera...
Todos os atores representam personagens que vão à metrópole, no caso ao Rio de Janeiro, com a vontade se tornar ator/atriz. Eles cantam, dançam, fazem de tudo para conseguir chamar nossa atenção. Muitas piadas são baseadas no senso comum e alguns chavões se repetem. Apesar da previsibilidade dos personagens a atuação da maioria conseguia divertir e em alguns momentos éramos pegos de surpresa com um número musical bem articulado.
A proposta da peça para além da história me parece ser o ponto forte da discussão acerca de Clandestinos. A maneira como a realidade e a ficção se misturam causa em nós uma curiosidade, nos questionamos se de fato aquela é mesmo a história daqueles atores, ou então se seria mais um personagem em suas vidas. Ao nos acostumarmos com as estrelas de Hollywood e os famosos da televisão, que acabam fazendo o papel de si mesmos, nós também não conseguimos fugir dessa vontade de saber do universo íntimo do ator.
A peça de João Falcão não é das melhores tecnicamente, mas os atores se esforçam para cumprir um bom papel.
Acho que estão no caminho certo e com um pouco mais de experiência devem chegar lá.

Crítica - Don Juan

Um Don Juan multifacetado. É o que sugere o espetáculo do diretor Thierry Trémouroux. A encenação partiu basicamente do texto de Molière e sendo inserido ao longo da história textos de outros autores sobre o mito. 
O resultado é lamentável. Uma disfunção cênica absurda. Uma falta de coerência sobre o mito, talvez pela busca da infidelidade em relação ao mesmo, que o programa da peça ressalta. Na verdade o que se vê é uma infidelidade ao teatro.
As quebras e buscas do meta-teatro são executadas de maneira pífia e grosseira. 
O que se ressalta de bom é a "fidelidade" dos atores para com a direção, que parecem acreditar fielmente nas cenas (mesmo sem estrutura e dialética alguma) que lhes foram propostas.
A costumeira tensão que se vê nos espetáculos referentes a este importante mito da literatura parecem ter sido deixadas de lado, como se não fossem importantes. 
Enfim,  Don Juan parece não acontecer em cena, o que é uma pena, pois poderia ter acontecido tão destacadamente quanto o mito literário.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Crítica - O Santo e a Porca

Embora se trate de um texto muito conhecido, é possível que alguns o desconheçam. Então, reproduzimos a seguir a "sinopse" do texto, por sinal muito bem escrita pela assessora de imprensa Ana Gaio:
"A avareza doentia de Euricão vai deixá-lo pobre e solitário, como ele se dizia ser e vivia para evitar os fantasmagóricos 'ladrões' que o assediavam. Caroba, criada por Euricão para se casar com Pinhão, que trabalha para o milionário Eudoro, arquiteta um mirabolante, audacioso, confuso e hilário plano. Todos se deixam envolver tendo de um lado os 'oprimidos' de todas as espécies e, de outro, os supostos opressores Euricao e Eudoro".
Estamos, evidentemente, diante de uma comédia, mas certamente impregnada de saborosas críticas a determinados valores, sobretudo os inerentes ao dinheiro - e aqui a questão é colocada de forma muito engraçada, pois Euricão enfiou dentro de um cofre, com formato de porca, tudo que ganhou na vida, ao mesmo tempo simulando ser muito pobre. No final, porém, é forçado a constatar a patética inutilidade de seu hábito...
Bem escrita, repleta de humor e contendo ótimos personagens, ainda assim acreditamos que "O santo e a porca" poderia ser uma peça ainda mais contundente se fosse um pouco mais curta, pois em sua metade há passagens que poderiam perfeitamente ser abreviadas ou simplesmente excluídas, já que só contribuem para ralentar a narrativa. E este problema torna-se evidente no espetáculo.
Este começa de forma esfusiante, alegre, com marcações muito criativas e divertidas. Mas quando atinge sua metade, dada a prolixidade do texto, o ritmo cai e, consequentemente, o interesse do espectador diminui. Mas não a ponto de lamentar ter comparecido ao Villa-Lobos, não só pelas razões já apontadas como também pelo ótimo desempenho do elenco.
Indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz do ano passado, Gláucia Rodrigues constrói uma Caroba irrepreensível - maliciosa, debochada, astuta e extremamente sensual. Élcio Romar também exibe ótima performance na pele de Euricão, o mesmo aplicando-se a Duaia Assumpção, que valoriza ao máximo o relativamente curto papel de Benona. Os demais integrantes do elenco atuam com segurança e grande vitalidade. A direção de João Fonseca é segura e sem exageros, no ponto justo que o texto de Suassuna pede.
Na equipe técnica, o grande destaque vai para os divertidos e criativos figurinos de Ney Madeira, também indicado ao Shell de 2008. Nello Marrese assina uma cenografia totalmente adequada ao contexto, sendo corretas a música original e direção musical de Wagner Campos, e a iluminação de Rogéio Wiltgen.

Crítica - Toc Toc


Uma sala de espera de um médico especialista em Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) se apresenta, é claro, como ideal para uma comédia. Ao francês Laurent Baffie (com tradução de Alexandre Reinecke) obviamente ocorreu que se tratava de uma situação ideal, e na verdade sua escolha de obsessões e o encontro de seis "pacientes" é até bem-sucedido,dentro de seus limites.

O resultado do encontro tem momentos razoavelmente divertidos, mas como o autor não quis que sua comédia tivesse algum ponto de vista crítico que justificasse o encontro,"Toc Toc" acaba ficando reduzida a uma espécie de anedota, um tanto repetitiva e em muitos momentos cansativa.O Tema em questão se esgota muito rapidamente, a pesar que é importante ressaltar que o público ri muito. 

O cenário de Márcia Moon, composto por cortinas de venezianas, deixa claro o objetivo de facilidade de transporte para viagem, e os figurinos de Carolina Badra são bastante individualizados. O diretor que também é o tradutor do texto busca o exagero pelo medo de deixar cair a peteca, e com isso o ritmo fica sempre rápido, e o clima, tenso. Talvez por saber que sem recursos cênicos, só possa contar com os atores.

 Márcia Cabrita, Marat Descartes, Ângela Barros, Flavia Garrafa, Riba Carlovich e Sergio Guizé dão todos conta de seus casos de toc.

"Toc toc" é uma comédia sem maiores pretensões e de certa forma agrada o público.


















segunda-feira, 13 de abril de 2009

Crítica - O Estrangeiro

A peça conta a história de Meursault, um homem totalmente dominado pelo vazio. Ele recebe a notícia da morte da mãe, comete um crime gratuitamente, é preso, julgado e condenado a morte. Em todas as circunstâncias, age da mesma maneira: indiferente. Para ele, "tanto faz". Todos os atos e circunstâncias se devem ao acaso. Nada mais.

Durante o velório da mãe, se comporta de forma reprovada por todos os presentes. Não se mostra abalado pela morte, apenas uma sensação de querer estar longe daquele lugar. No outro dia, vai ao cinema com uma moça que trabalhava em seu escritório em Paris. Dormiram juntos. Dias depois, resolveu passear pela praia, onde matou sem motivos um árabe – desafeto de um dos seus companheiros. Meursault apontou o revólver, puxou o gatilho e, ao ver o corpo estendido no chão, ainda deu mais três tiros. Ao ser levado a júri, simplesmente não conseguiu justificar por que atirou no árabe. Disse apenas que foi "porque fazia calor".

O absurdo não se aplica apenas ao personagem principal. O julgamento acaba virando um "circo". O árabe é simplesmente esquecido. Todos se preocupam com o fato do Meursault não ter chorado no enterro da mãe. "Em nossa sociedade, qualquer homem que não chore no funeral de sua mãe, corre o risco de ser sentenciado à morte", disse. É basicamente com esse pensamento que o personagem tenta manipular a opinião do público. Afinal, como pode um homem não se emocionar no funeral da mãe? Como pode ir ao cinema logo após deixar o enterro da mãe?

Em seus últimos momentos na prisão, o personagem é procurado por um padre para confessar-se e arrepender-se dos pecados. Ele nega Cristo e termina por agredir o sacerdote. Nesse momento, embora niilista, mostra ter sentimentos, parece despertar da espécie de inércia moral que se encontrava mergulhado até então. Extremista, sente ódio pela presença do padre. Sente alegria por agredi-lo.

Todo o processo da obra acontece em Marengo, a 80 quilômetros de Argel. Meursault é estrangeiro para a sociedade em que vive. É estrangeiro em si mesmo. Procura a todo momento uma justificativa de sua existência e não a encontra em lugar algum, em pessoa alguma. É insensível. Apenas vive.

Guilherme Leme está soberano. A narrativa envolve o público do início ao fim da peça. O espetáculo é visceral e mostra de forma seca e direta para onde caminha a humanidade. Mostra o quanto somos indiferentes e temos todos atitudes de estrangeiros.

Crítica - A Cabra ou quem é Sylvia?

A estranheza do espetáculo de Edward Albee já começa pelo título e percorre a encenação, de forma a incomodar, e muito, o público, a partir do amor declarado de um homem por uma cabra. Um arquiteto casado, bem casado, desesperadamente entregue a um sentimento que explicita sua condição: recém-chegado aos 50 anos, ele está só, mesmo cercado de pessoas. Só. Com perspectivas que não lhe atraem. Não mais. 
A montagem brasileira, dirigida por Jô Soares e com José Wilker à frente do elenco, é econômica e de condução bastante eficiente, com espaço para o brilho não só do protagonista, mas como o de Denise Del Vecchio como a mulher traída. De todas, a melhor cena é a da confissão dele, à mulher, de que participara de uma reunião de zoófilos anônimos. Bons diálogos, bom elenco e sensação de dever cumprido.

Crítica - Essa é a Nossa Canção

Devo confessar que faz tempo que ouço falar da Amanda Acosta, que construiu uma bela carreira como atriz-cantora de musicais em SP, mas nunca tinha me tocado que é a mesma Amanda ex-Trem da Alegria. Pois é, ela está ao lado do Tadeu Aguiar na peça. Eles vivem um compositor consagrado e uma letrista iniciante que, a partir do trabalho, acabam se envolvendo. O texto é engraçadinho, absolutamente previsível, com direito a fantasma de ex-namorado a atormentar o novo casal de pombinhos. É diversão ligeira, com direito a canções românticas, aqui, contudo, sob tradução caretinha demais do Flavio Marinho para as letras. Quem batalhou e levantou o projeto foi o próprio Tadeu, que está bem em cena, como que debochando da própria silhueta rechonchuda na execução das coreografias. Amanda tem voz e boa presença cênica, embora suas interpretações tenham um certo apelo de 'American Idols' da vida. Mesmo que falte algum verniz, é um musical que vale a ida ao teatro: bem produzido e com atuações a contento. Mas não espere nada de teatro pós-dramático é só pra uma diversão tipo cine pipoca. Luz, cenografia e figurinos, são simples e apenas compõem a cena. As demais interpretações agem como coadjuvantes e sem grande relevância.

Crítica - Hamlet

O "Hamlet" de Aderbal Freire-Filho não traz nada de novo, é um espetáculo tradicional.Isso não seria nenhum problema e sim uma opção, mas talvez na tentativa de fugir um pouco deste tradicionalismo exacerbado, comete um erro crucial para o andamento da peça: O corte radical de todo o lado político da peça, que rouba a Hamlet a oportunidade de dar seu voto a Fortimbrás, parte do desejo do príncipe de repor o reino nos eixos, pelo que, afinal, ele deu sua vida. Outro erro é que a loucura de Hamlet é claramente identificada pelo autor, pois, quando "louco", Hamlet fala em prosa, e, quando está em sua condição normal, em verso. É possível que a confusão tenha nascido da opção feita pelos tradutores de só usar prosa. O resultado disso é que o príncipe assume o comportamento de "loucura" na peça inteira, perdendo toda a serenidade e reflexão que prejudica muito a interpretação do protagonista da obra.

O cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand de Albuquerque é interessante, sugerindo cena e bastidores, com uma imensa tela onde vários momentos da ação são projetados, mas não consegue contribuir em nada para a compreensão do texto.

Os figurinos de Marcelo Pies são fraquíssimos. É boa a luz de Maneco Quinderé e perspicaz a música de Rodrigo Amarante.

A direção de Aderbal é bastante confusa, sem um foco definido, parecendo deixar o elenco fazer o que quisesse. O texto é pouco explorado, com os atores gritando tanto sem alcançar qualquer intenção ou sutileza.

O protagonista Wagner Moura, já rouco no final, apesar dos pesares, demonstra disposição de que poderia ter feito um Hamlet melhor e mais bem construído. O resto do elenco fica todo muito abaixo dele: o rei de Tonico Pereira é um bufão cafajeste, enquanto Gillray Coutinho faz um Polônio caricato e ridícul. Candido Damm, Fábio Lago, Felipe Koury, Marcelo Flores e Mateus Solano, fazem o Fantasma ao mesmo tempo, tirando toda a tensão do encontro de Hamlet com o pai. Carla Ribas (Gertrude) e Georgiana Góes (Ofélia) são fraquíssimas e indignas de nota por .

No geral, esse Hamlet tem pouquíssimos momentos interessantes e se perde em todos os aspectos, principalmente no que diz respeito aos valores impostos na obra.