terça-feira, 28 de abril de 2009

Crítica - Farsa da boa preguiça

Ariano Suassuna , autor de "Farsa da boa preguiça," dispensa apresentação, mas nunca é demais ressaltar que o trabalho do romancista e dramaturgo é uma das mais importantes referências da literatura brasileira. Fundador do “Movimento Armorial”, Ariano tem sua obra permeada por valores e personagens da cultura popular nordestina e de clássicos da literatura universal. O autor dos célebres “O Auto da Compadecida” e “A Pedra do Reino”, é o poeta das raízes mais fundas da nacionalidade, um defensor militante da cultura do Nordeste, tendo sido comparado a Dante e Cervantes.
"Farsa da boa preguiça ", narra a história de Joaquim Simão (Guilherme Piva), poeta de cordel, pobre e "preguiçoso", que só pensa em dormir. Joaquim é casado com Nevinha (Daniela Fontan), mulher religiosa e dedicada ao marido e aos filhos. O casal mais rico da cidade, Aderaldo Catacão (Ernani Moraes) e Clarabela (Bianca Byington), possui um relacionamento aberto. Aderaldo é apaixonado por Nevinha e Clarabela quer conquistar Joaquim Simão. Três demônios fazem de tudo para que o pobre casal se renda a tentação e caia no pecado, enquanto dois santos tentam intervir. Jesus observa e avalia tudo. A partir daí, situações inusitadas e muito divertidas fazem deste texto uma das peças mais divertidas do teatro brasileiro.
A encenação de João da Neves é sem dúvida a melhor que "Farsa..." já teve. O conteúdo de cada história fica bem claro, da forma que Suassuna concebeu. O diretor foi perspicaz ao ressaltar a qualidade do texto durante toda a peça, mantendo a peça em tom festivo o que aproxima e muito a platéia do espetáculo. A luz de Paulo César medeiros, a cenografia de Ney Madeira e os figurinos de Rodrigo Cohen se equilibram e ressaltam o clima festivo e nordestino da peça. Também estão perfeitas a movimentação cênica dirigida por Duda Maia, a direção de mamulengos de Gil Conti e a preparação vocal de Carol Futuro. 
O elenco formado por Guilherme Piva, Daniela Fontan, Bianca Byington, Ernani Moraes, Leandro castilho, Vilma melo, Flávio Pardal e Francisco Salgado, estão absolutos no universo de Suassuna e passam uma alegria imensa na interpretação de seus personagens. Vale muito a pena assistir este espetáculo simplesmente maravilhoso.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Crítica - Play

 Inspirada no filme "Sexo, mentiras e videotape", de Steven Soderbergh, a peça "Play" tem direção de Ivan Sugahara,que cada vez mais aproxima seu teatro com bases e bebendo na fonte do cinema. O texto é assinado por Rodrigo Nogueira, que também atua no espetáculo ao lado de Maria Maya, Jonas Gadelha e Daniela Galli. O cenário e os figurinos, bem simples dando idéia de um despojamento intencionado, são de Rui Cortez. A luz de Renato Machado é correta e propõe claramente a rotina do dia a dia das personagens. Maria Maia e Rodigo Nogueira exageram um pouco e passam do ponto na interpretação, enquanto Jonas Gadelha e Daniela Galli estão mais contidos e aproveitam bem as buances das personagens.

No palco, Ana (Daniela Galli), Cíntia (Maria Maya) e João (Rodrigo Nogueira) reproduzem o triângulo amoroso retratado no filme. João é casado com a reprimida Ana, mas trai a mulher com a sensual cunhada Cíntia. É quando chega Jonas (Jonas Gadelha), o amigo de João que vai desestabilizar as relações. Se no filme de Soderbergh ele era um homem que gravava mulheres por não conseguir mais manter relações sexuais "ao vivo", em "Play", Jonas grava mulheres por ser um artista que está fazendo um projeto. Um projeto que se confunde com a realidade de cada um dos personagens.

Em cena, cinco vídeos são exibidos num telão: duas atrizes desconhecidas, uma mulher anônima e as personagens Ana e Cíntia relatam momentos de intimidade que tiveram em suas vidas. A constante variação entre verdade e mentira cria um jogo instigante entre palco e plateia, em uma brincadeira na qual todos são jogadores - inclusive quem assiste.

O espetáculo faz uma alternância entre cenas  curtas e outras longas demais e se ressente de uma maior consistência de estrutura cênica, já que em alguns momentos muito interessantes se perdem num todo, com algumas cenais banais, que poderiam ser exploradas de uma forma bem mais interessante.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Crítica - Sobre o Suicídio

Dirigida e escrita por Luiz Fernando Lobo a partir de ensaio homônimo de Karl Marx, a peça Sobre o Suicídio traz mais uma encenação da Companhia Ensaio Aberto sobre um tema tabu. 

Como no texto de Marx, o espetáculo aborda quatro casos reais de suicídio: a mulher tratada como propriedade do marido, a suposta perda de virgindade antes de casamento, o aborto e o desemprego. 

Extraído do programa do presente espetáculo, este texto ilustra bem a postura de Karl Marx sobre um tema tão polêmico quanto desconcertante. Mas vale a pena citar um outro fragmento, também inserido no programa, que talvez contribua, entre outras coisas, para que o espectador possa entender as premissas essenciais que levaram a Cia. Ensaio Aberto a teatralizar o referido texto: O suicídio é significativo.

O espetáculo trata sobre temas muito pertinentes para os dias atuais e com certeza o espectador ao sair do teatro se questionará em relação ao que pensa sobre o suicídio, se concorda ou não. Se é um fato natural ou não na cosiedade atual.

O elenco formado por Fernanda Avellar, Françoise Berlanger, Tuca Moraes e Luiz Fernando Lobo está muito bem em cena e  muito consciente nas ações cênicas.

Na equipe técnica, Felipe Radicetti assina ótima direção musical e trilha original, cabendo ainda destacar os surpreendentes vídeos de Batman Zavareze e Fabio Ghivelder, a expressiva iluminação de Jef Dubois, os austeros figurinos de Beth Filipecki e Reinaldo Machado, e a ótima tradução de Rubens Enderle e Francisco Fontanella.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crítica - Alzira Power

A relevância deste texto de contestação que marcou uma época, e sua força teatral resiste muito bem à passagem do tempo, afinal desde que foi escrito já se passaram quatro décadas.. O segredo, é claro, está no fato de Bivar não ter optado pelo didático (tão em moda naquele tempo), mas, sim, por uma ação e personagens que dispensam explicações ou mensagens: o poder de Alzira se revela em termos da realidade — devidamente teatralizada e desmedida — das incontáveis Alziras aposentadas e solitárias, reprimidas e condicionadas desde o berço a obedecer ao mundo dos homens. Aliás o comentário final do texto a respeito do que a platéia vê e ouve continua mais do que válido.

A pesar das limitações do espaço, a direção o utiliza bem com uma boa disposição cênica. O cenário de Teça Fichinski cria todo um apartamento em perfeita sintonia com a vida e o temperamento da protagonista, e os figurinos, também seus, completam a unidade do todo. É boa a iluminação de Paulo David Gusmão, e muito boa a trilha de Caíque Botkay

A direção de Gustavo Paso é orientada pelo tom de Bivar (autor do texto) e explora bem a luta pelo poder entre Alzira e Ernesto, tudo sempre em uma calculada dimensão acima do real, de modo a aproveitar bem o que o texto lhe oferece.

Cristina Pereira explora bem os delírios ressentidos de "Alzira" com suas repentinas mudanças de tom e ritmo, que em última análise deixam claro que tudo o que faz ainda é pouco para expressar o ressentimento de toda uma vida de obediência e opressão; e Sidney Sampaio, da o tom certo para seu personagem, não servindo apenas de escada para Alzira. 

Alzira Power, mesmo sendo escrita num período de ditadura, mostra que está muito atual e deve ser vista por todos, mesmo os que não viveram aquela época.

Crítica - A Mais Forte, Estruturada

August Strindberg é o criador do expressionismo e do teatro intimista. Através de seu texto forte, inteligente e cheio de informações nas linhas e entrelinhas vai construindo a história de forma a nos seduzir em cada detalhe citado. Não nos permite se quer uma distração. Impossível não ficar vidrado em sua narrativa. 
Em "A Mais Forte, Estruturada", adaptação do texto "A Mais Forte" de August Strindberg, com estrutura e direção de Márcio Zatta, o que se vê é um belo exemplar do teatro intimista e expressionista citado acima.
A peça conta a história de duas mulheres (Senhora X e Senhorita Y) que disputam o amor do mesmo homem. O interessante é que cada uma faz isto da sua forma. Enquanto a "Senhora X" usa de toda a sua forma expansiva e ativa lutando palmo a palmo pelo amor deste homem, tentando diminuir e humilhar a outra durante todo o tempo com palavras pesadíssimas, a "Senhorita Y" permanece calada, intacta, de forma passiva e em momento algum ataca a outra. Ao final o que se pergunta é quem é a mais forte da história? Qual o melhor caminho a se seguir pelo o amor de um homem? Atividade ou passividade? Na adaptação, o diretor acrescentou alguns textos sobre religiosidade e distúrbios que são falados no inícioda peça pelos atores ainda fora dos personagens, porém criando uma relação destes textos com os personagens ao longo do espetáculo.
Quando se entra no teatro o que se vê são atores em trabalho de concentração e aquecimento e uma série de adereços de cena espalhados pelo palco, dando uma idéia de que a peça será montada diante da platéia. Aos poucos os atores vão arrumando cenário e adereços em seus devidos lugares para darem início ao trabalho cênico. A partir daí o que se vê são atores muito bem preparados fisicamente e muito bem dirigidos em cena. Os atores Otto Caetano, Cinthia Travassos e Diego Sant' anna que interpretam a Senhorita Y são de uma precisão de movimentos dignos de uma parada militar chinesa. Apanhando objetos de cena como copos, garrafas, pedras e até alimentos todos ao mesmo tempo, sem nenhum erro se quer.  Além de sua expressõe faciais em relação ao texto serem identicas e também sincronizadas. As duas atrizes que interpretam a Senhora X imprimem momentos bem distintos para a personagem, no início Andréa Duat dá um tom de tranquilidade para personagem colocando bem o seu texto em cena, mas é quando a atriz Helen maltasch entra em cena que a peça ganha uma força cênica estrionica, numa mistura de texto perfeitamente bem colocado e sentido com um trabalho de expressão corporal invejável introduzindo passos de balet que deram uma beleza plástica para a cena pouco visto no teatro carioca. 
A concepção cênica do diretor Márcio Zatta é única e bem disposta cenicamente. E o que é ainda mais interessante é que um tipo de teatro ainda não visto por aqui, tem um estilo próprio, arrojado e corajoso. Os figurinos de Otto Caetano e do próprio Zatta são lindíssimos e dão um ar gótico as personagens. A luz de Diego Sant' anna é simples, funcional e privilegia o trabalho dos atores. A ambientação cênica é em cima do teatro minimalista de Grotowsk com pouco cenografia o que é ótimo para a movimentação cênica. 
Enfim, "A mais Forte, Estruturada" é um excelente trabalho de uma Cia. nova "O Teatro da Estrutura" que parece saber muito bem seu potencial e onde pode chegar.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Crítica - O Filho da Mãe

Regiana Antonini mantém a fama de comediógrafa durante toda a sua carreira de autora no teatro. 
No espetáculo "O Filho da Mãe", a mulher é abandonada pelo marido e tem que se vrar por conta própria. Bordão mais antigo não existe. 
O humor fácil do espetáculo em detrimento ao humor inteligente derruba toda a trama e torna a peça completamente cansativa e desinteressante.
O diretor do espetáculo, João Camargo caiu na armadilha de simplesmente deixar Regiana atuar da maneira que ela é no dia a dia, expansiva, maximizada e tomando conta de toda a cena. Pedro Nercessian fica num plano secundário, completamente apagado pela impoNência exagerada de Regiana.
Fraquíssima a história, com figurinos, luz e cenário mediocres.

Crítica - Espia uma mulher que se mata

Espetáculo baseado no texto Tio Vânia, de Tchecov despreza o que famoso autor tem de melhor: os meios tons, pausas significativas, silêncios medidos, entrelinhas de sentimentos e muita melancolia. 
O diretor argentino Daniel Veronese, parece não achar interessante todas estas máximas que compõem os textos de Tchecov, parece pensar que tudo o que já foi dito da obra do russo, seja uma inverdade. 
No espetáculo o teatro de Tchecov é mais usado como referência de método do que contextualidade.
O diretor exagera tanto em gritos e expressões que quase chega ao patético, nesta versão nada convencional de Tio Vânia.
O cenário de tapadeiras fingindo portas demonstra o total interesse em facilitar o transporte num objetivo de sucesso comercial.
Atores cumprem o que a direção se dispõe e se entregam de forma total. Infelizmente esta montagem superficial de um texto tchecoviano deixa muito a desejar do tão aclamado autor russo.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Crítica - Clandestinos

Entramos no teatro Glória, os atores já estão em cena, mesmo antes da peça começar. O cenário que deixa as estruturas do teatro à mostra e explora diversos níveis do palco, é composto de muitos instrumentos musicais e uma parede imensa toda rabiscada. Este ambiente juvenil, com grafismos modernos, nos remete ao cheiro da urbanicidade, o local da fama, do caldeirão cultural, do movimento, da oportunidade, do sonho, das tendências, mas também da solidão, da competição, da desigualdade, da diferença, da frustração, da espera, da espera, da espera...
Todos os atores representam personagens que vão à metrópole, no caso ao Rio de Janeiro, com a vontade se tornar ator/atriz. Eles cantam, dançam, fazem de tudo para conseguir chamar nossa atenção. Muitas piadas são baseadas no senso comum e alguns chavões se repetem. Apesar da previsibilidade dos personagens a atuação da maioria conseguia divertir e em alguns momentos éramos pegos de surpresa com um número musical bem articulado.
A proposta da peça para além da história me parece ser o ponto forte da discussão acerca de Clandestinos. A maneira como a realidade e a ficção se misturam causa em nós uma curiosidade, nos questionamos se de fato aquela é mesmo a história daqueles atores, ou então se seria mais um personagem em suas vidas. Ao nos acostumarmos com as estrelas de Hollywood e os famosos da televisão, que acabam fazendo o papel de si mesmos, nós também não conseguimos fugir dessa vontade de saber do universo íntimo do ator.
A peça de João Falcão não é das melhores tecnicamente, mas os atores se esforçam para cumprir um bom papel.
Acho que estão no caminho certo e com um pouco mais de experiência devem chegar lá.

Crítica - Don Juan

Um Don Juan multifacetado. É o que sugere o espetáculo do diretor Thierry Trémouroux. A encenação partiu basicamente do texto de Molière e sendo inserido ao longo da história textos de outros autores sobre o mito. 
O resultado é lamentável. Uma disfunção cênica absurda. Uma falta de coerência sobre o mito, talvez pela busca da infidelidade em relação ao mesmo, que o programa da peça ressalta. Na verdade o que se vê é uma infidelidade ao teatro.
As quebras e buscas do meta-teatro são executadas de maneira pífia e grosseira. 
O que se ressalta de bom é a "fidelidade" dos atores para com a direção, que parecem acreditar fielmente nas cenas (mesmo sem estrutura e dialética alguma) que lhes foram propostas.
A costumeira tensão que se vê nos espetáculos referentes a este importante mito da literatura parecem ter sido deixadas de lado, como se não fossem importantes. 
Enfim,  Don Juan parece não acontecer em cena, o que é uma pena, pois poderia ter acontecido tão destacadamente quanto o mito literário.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Crítica - O Santo e a Porca

Embora se trate de um texto muito conhecido, é possível que alguns o desconheçam. Então, reproduzimos a seguir a "sinopse" do texto, por sinal muito bem escrita pela assessora de imprensa Ana Gaio:
"A avareza doentia de Euricão vai deixá-lo pobre e solitário, como ele se dizia ser e vivia para evitar os fantasmagóricos 'ladrões' que o assediavam. Caroba, criada por Euricão para se casar com Pinhão, que trabalha para o milionário Eudoro, arquiteta um mirabolante, audacioso, confuso e hilário plano. Todos se deixam envolver tendo de um lado os 'oprimidos' de todas as espécies e, de outro, os supostos opressores Euricao e Eudoro".
Estamos, evidentemente, diante de uma comédia, mas certamente impregnada de saborosas críticas a determinados valores, sobretudo os inerentes ao dinheiro - e aqui a questão é colocada de forma muito engraçada, pois Euricão enfiou dentro de um cofre, com formato de porca, tudo que ganhou na vida, ao mesmo tempo simulando ser muito pobre. No final, porém, é forçado a constatar a patética inutilidade de seu hábito...
Bem escrita, repleta de humor e contendo ótimos personagens, ainda assim acreditamos que "O santo e a porca" poderia ser uma peça ainda mais contundente se fosse um pouco mais curta, pois em sua metade há passagens que poderiam perfeitamente ser abreviadas ou simplesmente excluídas, já que só contribuem para ralentar a narrativa. E este problema torna-se evidente no espetáculo.
Este começa de forma esfusiante, alegre, com marcações muito criativas e divertidas. Mas quando atinge sua metade, dada a prolixidade do texto, o ritmo cai e, consequentemente, o interesse do espectador diminui. Mas não a ponto de lamentar ter comparecido ao Villa-Lobos, não só pelas razões já apontadas como também pelo ótimo desempenho do elenco.
Indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz do ano passado, Gláucia Rodrigues constrói uma Caroba irrepreensível - maliciosa, debochada, astuta e extremamente sensual. Élcio Romar também exibe ótima performance na pele de Euricão, o mesmo aplicando-se a Duaia Assumpção, que valoriza ao máximo o relativamente curto papel de Benona. Os demais integrantes do elenco atuam com segurança e grande vitalidade. A direção de João Fonseca é segura e sem exageros, no ponto justo que o texto de Suassuna pede.
Na equipe técnica, o grande destaque vai para os divertidos e criativos figurinos de Ney Madeira, também indicado ao Shell de 2008. Nello Marrese assina uma cenografia totalmente adequada ao contexto, sendo corretas a música original e direção musical de Wagner Campos, e a iluminação de Rogéio Wiltgen.

Crítica - Toc Toc


Uma sala de espera de um médico especialista em Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) se apresenta, é claro, como ideal para uma comédia. Ao francês Laurent Baffie (com tradução de Alexandre Reinecke) obviamente ocorreu que se tratava de uma situação ideal, e na verdade sua escolha de obsessões e o encontro de seis "pacientes" é até bem-sucedido,dentro de seus limites.

O resultado do encontro tem momentos razoavelmente divertidos, mas como o autor não quis que sua comédia tivesse algum ponto de vista crítico que justificasse o encontro,"Toc Toc" acaba ficando reduzida a uma espécie de anedota, um tanto repetitiva e em muitos momentos cansativa.O Tema em questão se esgota muito rapidamente, a pesar que é importante ressaltar que o público ri muito. 

O cenário de Márcia Moon, composto por cortinas de venezianas, deixa claro o objetivo de facilidade de transporte para viagem, e os figurinos de Carolina Badra são bastante individualizados. O diretor que também é o tradutor do texto busca o exagero pelo medo de deixar cair a peteca, e com isso o ritmo fica sempre rápido, e o clima, tenso. Talvez por saber que sem recursos cênicos, só possa contar com os atores.

 Márcia Cabrita, Marat Descartes, Ângela Barros, Flavia Garrafa, Riba Carlovich e Sergio Guizé dão todos conta de seus casos de toc.

"Toc toc" é uma comédia sem maiores pretensões e de certa forma agrada o público.


















segunda-feira, 13 de abril de 2009

Crítica - O Estrangeiro

A peça conta a história de Meursault, um homem totalmente dominado pelo vazio. Ele recebe a notícia da morte da mãe, comete um crime gratuitamente, é preso, julgado e condenado a morte. Em todas as circunstâncias, age da mesma maneira: indiferente. Para ele, "tanto faz". Todos os atos e circunstâncias se devem ao acaso. Nada mais.

Durante o velório da mãe, se comporta de forma reprovada por todos os presentes. Não se mostra abalado pela morte, apenas uma sensação de querer estar longe daquele lugar. No outro dia, vai ao cinema com uma moça que trabalhava em seu escritório em Paris. Dormiram juntos. Dias depois, resolveu passear pela praia, onde matou sem motivos um árabe – desafeto de um dos seus companheiros. Meursault apontou o revólver, puxou o gatilho e, ao ver o corpo estendido no chão, ainda deu mais três tiros. Ao ser levado a júri, simplesmente não conseguiu justificar por que atirou no árabe. Disse apenas que foi "porque fazia calor".

O absurdo não se aplica apenas ao personagem principal. O julgamento acaba virando um "circo". O árabe é simplesmente esquecido. Todos se preocupam com o fato do Meursault não ter chorado no enterro da mãe. "Em nossa sociedade, qualquer homem que não chore no funeral de sua mãe, corre o risco de ser sentenciado à morte", disse. É basicamente com esse pensamento que o personagem tenta manipular a opinião do público. Afinal, como pode um homem não se emocionar no funeral da mãe? Como pode ir ao cinema logo após deixar o enterro da mãe?

Em seus últimos momentos na prisão, o personagem é procurado por um padre para confessar-se e arrepender-se dos pecados. Ele nega Cristo e termina por agredir o sacerdote. Nesse momento, embora niilista, mostra ter sentimentos, parece despertar da espécie de inércia moral que se encontrava mergulhado até então. Extremista, sente ódio pela presença do padre. Sente alegria por agredi-lo.

Todo o processo da obra acontece em Marengo, a 80 quilômetros de Argel. Meursault é estrangeiro para a sociedade em que vive. É estrangeiro em si mesmo. Procura a todo momento uma justificativa de sua existência e não a encontra em lugar algum, em pessoa alguma. É insensível. Apenas vive.

Guilherme Leme está soberano. A narrativa envolve o público do início ao fim da peça. O espetáculo é visceral e mostra de forma seca e direta para onde caminha a humanidade. Mostra o quanto somos indiferentes e temos todos atitudes de estrangeiros.

Crítica - A Cabra ou quem é Sylvia?

A estranheza do espetáculo de Edward Albee já começa pelo título e percorre a encenação, de forma a incomodar, e muito, o público, a partir do amor declarado de um homem por uma cabra. Um arquiteto casado, bem casado, desesperadamente entregue a um sentimento que explicita sua condição: recém-chegado aos 50 anos, ele está só, mesmo cercado de pessoas. Só. Com perspectivas que não lhe atraem. Não mais. 
A montagem brasileira, dirigida por Jô Soares e com José Wilker à frente do elenco, é econômica e de condução bastante eficiente, com espaço para o brilho não só do protagonista, mas como o de Denise Del Vecchio como a mulher traída. De todas, a melhor cena é a da confissão dele, à mulher, de que participara de uma reunião de zoófilos anônimos. Bons diálogos, bom elenco e sensação de dever cumprido.

Crítica - Essa é a Nossa Canção

Devo confessar que faz tempo que ouço falar da Amanda Acosta, que construiu uma bela carreira como atriz-cantora de musicais em SP, mas nunca tinha me tocado que é a mesma Amanda ex-Trem da Alegria. Pois é, ela está ao lado do Tadeu Aguiar na peça. Eles vivem um compositor consagrado e uma letrista iniciante que, a partir do trabalho, acabam se envolvendo. O texto é engraçadinho, absolutamente previsível, com direito a fantasma de ex-namorado a atormentar o novo casal de pombinhos. É diversão ligeira, com direito a canções românticas, aqui, contudo, sob tradução caretinha demais do Flavio Marinho para as letras. Quem batalhou e levantou o projeto foi o próprio Tadeu, que está bem em cena, como que debochando da própria silhueta rechonchuda na execução das coreografias. Amanda tem voz e boa presença cênica, embora suas interpretações tenham um certo apelo de 'American Idols' da vida. Mesmo que falte algum verniz, é um musical que vale a ida ao teatro: bem produzido e com atuações a contento. Mas não espere nada de teatro pós-dramático é só pra uma diversão tipo cine pipoca. Luz, cenografia e figurinos, são simples e apenas compõem a cena. As demais interpretações agem como coadjuvantes e sem grande relevância.

Crítica - Hamlet

O "Hamlet" de Aderbal Freire-Filho não traz nada de novo, é um espetáculo tradicional.Isso não seria nenhum problema e sim uma opção, mas talvez na tentativa de fugir um pouco deste tradicionalismo exacerbado, comete um erro crucial para o andamento da peça: O corte radical de todo o lado político da peça, que rouba a Hamlet a oportunidade de dar seu voto a Fortimbrás, parte do desejo do príncipe de repor o reino nos eixos, pelo que, afinal, ele deu sua vida. Outro erro é que a loucura de Hamlet é claramente identificada pelo autor, pois, quando "louco", Hamlet fala em prosa, e, quando está em sua condição normal, em verso. É possível que a confusão tenha nascido da opção feita pelos tradutores de só usar prosa. O resultado disso é que o príncipe assume o comportamento de "loucura" na peça inteira, perdendo toda a serenidade e reflexão que prejudica muito a interpretação do protagonista da obra.

O cenário de Fernando Mello da Costa e Rostand de Albuquerque é interessante, sugerindo cena e bastidores, com uma imensa tela onde vários momentos da ação são projetados, mas não consegue contribuir em nada para a compreensão do texto.

Os figurinos de Marcelo Pies são fraquíssimos. É boa a luz de Maneco Quinderé e perspicaz a música de Rodrigo Amarante.

A direção de Aderbal é bastante confusa, sem um foco definido, parecendo deixar o elenco fazer o que quisesse. O texto é pouco explorado, com os atores gritando tanto sem alcançar qualquer intenção ou sutileza.

O protagonista Wagner Moura, já rouco no final, apesar dos pesares, demonstra disposição de que poderia ter feito um Hamlet melhor e mais bem construído. O resto do elenco fica todo muito abaixo dele: o rei de Tonico Pereira é um bufão cafajeste, enquanto Gillray Coutinho faz um Polônio caricato e ridícul. Candido Damm, Fábio Lago, Felipe Koury, Marcelo Flores e Mateus Solano, fazem o Fantasma ao mesmo tempo, tirando toda a tensão do encontro de Hamlet com o pai. Carla Ribas (Gertrude) e Georgiana Góes (Ofélia) são fraquíssimas e indignas de nota por .

No geral, esse Hamlet tem pouquíssimos momentos interessantes e se perde em todos os aspectos, principalmente no que diz respeito aos valores impostos na obra.

domingo, 12 de abril de 2009

Crítica - In on It

Não adianta, é fato, o melhor teatro é feito de texto+ator, tratando da condição humana. "In on it" ("Por dentro"), texto do canadense Daniel Macivor cria seus próprios caminhos, a fim de compor um todo, que oferece ao público uma excepcional experiência estética, emocional e intelectual. A ambiguidade da palavra play - peça, jogo, interpretar, brincar - é exemplarmente explorada por dois elementos, "Este Aqui" e "Aquele Ali", que atuam, entram e saem do jogo cênico, com perfeita e lógica fluência. O tema é simplesmente a vivência humana, a interrelação de um pequeno grupo, no qual o homossexualismo não é defendido nem atacado, apenas existe como um dos componentes da complexidade geral. A tradução de Daniele Ávila muito contribui para a qualidade do espetáculo.

A encenação de "In on it" é simples, centrada em texto e ator. A cenografia de Domingos de Alcântara é austera, os figurinos de Luciana Cardoso também são tão simples quanto o texto exige. A luz de Maneco Quinderé pulsa com a ação, a trilha de Lucas Marcier é discreta, e o conjunto Valéria Campos, Mabel Tude e Márcia Rubin é responsável pela rica linguagem corporal dos atores.

A direção de Enrique Diaz é impecável: identidade física, andamento, aproximações, afastamentos, tudo está sob controle.

Do mesmo modo que a direção opta por encontrar a vida específica do texto, os dois atores que compõem o elenco apresentam a mesma conivência ao fazerem de suas interpretações partes complementares uma da outra: do mesmo modo que entram e saem da ação, ou que mudam de personagem, Fernando Eiras e Emilio de Mello são de uma cumplicidade e segurança notável.

É impossível, como resultado, avaliar ou comparar o trabalho dos dois atores. Eiras e Mello, juntos, compõem o universo desse original "In on it", tendo a mesma generosidade um para com o outro, que exibem, fartamente, em sua comunicação com a plateia.

Mais um espetáculo maravilhoso e que devia ser encarado como uma aula de concepção cênica e interpretação de atores.

Crítica - Inveja dos Anjos

Uma viagem pela vida e seus acontecimentos mais íntimos.Esta é a tônica do espetáculo  "Inveja dos anjos". Um emocionante texto daqueles que ficam guardados em nossa memória durante um longo tempo e faz o público transitar pelos sentimentos dos personagens e se envolver gradativamente ao longo dos fstos e acontecimentos que se sucedem. 

Maurício Arruda mendonça e Paulo de Moraes elaboraram a dramaturgia juntamente com a cenografia do mesmo Paulo e Carla Berri, caiu como uma luva para a Fundição progresso, onde a parede de tijolos envolve todo o contexto da história.

 O texto fala de um grupo de personagens que vive em uma pequena localidade do interior, e viaja por toda uma gama de relacionamentos e sentimentos, de perdas permanentes ou provisórias, de chegadas e partidas, e das memórias que os une. 

O lindo cenário, a estrada pela qual passam tanto o trem quanto as vidas dos que moram junto dela, é parte da trama, é personagem, é sujeito da ação, mas sem querer suprimir os atores.

Os figurinos de Rita Murtinho são de uma semsibilidade ímpar e compõem o ambiente da trama e a luz de Maneco Quinderé é visceral, funcional e orgânica.

A direção de Paulo de Moraes prima pelo detalhe, no tom exato conduz a encenação narrando de forma sensível e audaz a vida das personagens.O elenco de forma harmonica se comunica como que por osmose de quem se conhece e trabalha juntos a um longo tempo. 

Mas é impossível não destacar o trabalho preciso de Patrícia Selonk, que constrói sua personagem com uma sutileza que só os grandes atores conseguem. Reconhecendo também é claro o excelente trabalho de Simone Mazzer, Thales Coutinho, marcelo Guerra, Simone Vianna, Ricardo Martins e Verônica Rocha.

"Inveja dos anjos" é mais um excelente trabalho da Armazém Companhia de Teatro.