quinta-feira, 28 de maio de 2009

Crítica - Decameron

Adaptada da obra homônima do italiano Giovanni Boccaccio, a comédia Decameron - A Arte de Fornicar aborda de maneira irreverente os comportamentos humanos, as paixões, a infidelidade, a sedução e as trapaças sexuais. O clássico apresenta o cotidiano de pequenos comerciantes e artesãos, cujas esposas usam truques e espertezas para fazer conquistas amorosas, mas sempre tentando preservar a imagem da família. 
Com uma linguagem cômica e satírica, o texto ganha atualidade e traz divertidas histórias. No palco, o público se depara com freiras devassas que realizam "milagres" sexuais, uma esposa traiçoeira com habilidade para negócios, um fugitivo maroto que tenta trapacear, jovens amantes, um criado que perde a cabeça por amor, entre outros personagens.
A direção é de Otávio Müller, que se baliza pela tradição popular, mas em nenhum momento cai na tentação do popularesco, tão pouco na vulgaridade. O cenário de Vera Oliveira facilita a agilidade das cenas. A luz de paulo Denizot não acompanha ao rítimo intenso do espetáculo, além de estar sendo operada com muita insegurança, deixando que acontecesse vários erros em cena. O figurino de Cassio Brasil é muito bem cuidado. As músicas compostas por Zéu Brito se encaixam perfeitamente na alegria da montagem. A trilha sonora de Caíque Botkay da mesma forma. o espetáculo é estrelado por Fabiana Karla (que confere a seu personagem boa atuação, emprestando-o e servindo-o desejos ardentes), Marcos Oliveira (figura caricatural bem construída), Bel Kutner (está ótima em cena), George Sauma (muito a vontade em seu personagem), Zéu Britto (seu personagem está bem próximo da chanchada), Jô Santana, Claudia Borioni, Isabel Lobo e Hossen Minussi (todos desenvolvendo muito menos seus personagens). 

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Crítica - Isaurinha

Protagonizado pela atriz Rosamaria Murtinho, o musical Isaurinha - Samba, Jazz e Bossa Nova mistura teatro, show e cinema para mostrar a trajetória da rainha do rádio Isaurinha Garcia. A peça retrata vários momentos da carreira da cantora, desde sua descoberta nos programas de calouros até seu glorioso apogeu. 
Ao lado de 18 atores e bailarinos, Rosamaria Murtinho interpreta os grandes sucessos de Isaurinha que fizeram parte do período áureo do rádio brasileiro entre as décadas de 40 e 80. Idealizado e produzido pelo ator Rick Garcia, neto da cantora, o espetáculo apresenta uma personalidade passional, explosiva e frágil de uma artista guiada pelo amor e pelas grandes paixões. 
O primeiro e maior erro desta montagem (ou seria remontagem: Rosamaria viveu a personagem em 2003) é querer aqpresentar um musical (afinal é a moda do momento) e não uma biografia, como manda o texto original. Por querer um musical foi contratado para a direção do espetáculo um Coreógrafo, Sylvio Lemgruber, e o que se vê é um excesso de atenção para a dança, com bailarinos entrando a todo o momento para executarem coreogrsfias sem o menor porque, enquanto texto e ainterpretação dos atores fica em segundo plano e muito precários.
A inserção de alguns vídeos com efeitos visuais, não têm qualquer ligação com a ação cênica, servindo apenas de pano de fundo para os bailarinos, que há de se ressaltar, utilizando figurinos que não possuem qualquer "brasilidade", parecendo mais de musicais americanos de décadas passadas.
Salva-se no espetáculo a interpretação de Rosamaria Murtinho (apesar de ser também prejudicada em alguns momentos por seus interlocutores. O elenco é todo fraquíssimo.) e a música, que leva a direção musical de João Paulo Mendonça.
Isaurinha Garcia, a gloriosa, merecia uma montagem com um acabamento muito mais sofisticado e glamouroso, que a montagem em questão.

Crítica - É a Mãe

Com texto de Ana Velloso e Vera Novello, a comédia É a Mãe apresenta situações comuns a todas as mães. No palco, 20 personagens mostram o cotidiano de diversos tipos de mulheres que têm que administrar as várias funções da vida. 
Entre as mães e filhas que aparecem na peça estão as personagens dos contos de fada e a Virgem Maria. Branca de Neve e Cinderela, por exemplo, mostram como é difícil ser criada por madrastas detestáveis, enquanto a Chapeuzinho Vermelho aparece como a filha que teve que cuidar da própria mãe. 
O espetáculo também aborda os clássicos tipos de mães, como a judia controladora, a popular sogra nordestina e a executiva bem sucedida. O público também participa da comédia em um programa de treinamento para futuras mamães.

A intenção do texto é fazer rir pelas questões já conhecidas do cotidiano, e isso faz com que que o texto não esteja muito bem elaborado. A maioria das esquetes são muito longas e não atingem o ritmo necessário, tornando-se bastante cansativas. Muitas mudanças desnecessárias de figurinos e adereços de cena, quebram em vários momentos a fluência do espetáculo.
O que deve ser enfatizado é que é na interpretação do elenco que a diretora Ana Velloso consegue melhor êxito, possibilitando que cada uma das atrizes (Ana Paula Botelho, Ana Velloso, Stella Maria Rodrigues e a própria Vera Novello) explorem as características que têm de melhor: a vocação para o homor.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Crítica - Ainda bem que foi agora

Com direção de Marcelo Saback, a peça Ainda Bem Que Foi Agora aborda com humor o relacionamento de um casal acima dos 30 anos. No palco, Olavo e Anita discutem o relacionamento mantido há muitos anos. 
Os encontros e desencontros do casal interpretado por Carlos Vieira e Andréa Mattar não seguem uma ordem cronológica dos fatos e trazem questionamentos comuns a todos os casais. Durante o espetáculo, a chamada quarta parede do teatro é rompida e o público participa da discussão do casal. 
O texto, de humor super inteligente e com ótimas sacadas, é dos competentes e jovens autores Julia Spadaccini e Rodrigo Nogueira.
O diretor utiliza em vários momentos recursos cinematográficos conseguindo muito êxito na questão.
Com uma grande precisão, os vídeos de Miguel Oliveira, transportam a cena e ambientação para a rua, obtendo momentos bastante interessantes. A Luz de Francisco Rocha é correta e cria um clima de naturalidade bem proposital à encenação. Os figurinos de Ney Madeira calham bem com o casal que é tipicamente de classe média carioca.
A interpretação dos atores consegue uma leveza, sem cair na banalidade. Em nenhum momento caem na armadilha da platéia de fazer o riso pelo riso. Tudo na peça tem um porque. Atingindo um humor inteligente e refinado.
Em síntese, o Teatro Cãndido Mendes que vinha tendo comédias fraquíssimas e com textos bizarros, volta a ter uma boa comédia e que vale muito ser assistida.


segunda-feira, 18 de maio de 2009

Crítica - Pessoas

O Marinheiro, O Jardim do Palácio, Salomé e a Morte do Príncipe. Estes quatro dramas estáticos compõem o novo espetáculo da Cia. Atores de Laura, que leva a direção de Susanna Kruger. A diretora criou quatro pequenos espaços, onde cada ator (Verônica Reis, Luiz André Alvim, Marcio Fonseca e Adriana Schneider) interpreta um dos textos de Pessoa. Através desta partitura , a diretora propõe uma instalação cênica onde a platéia tem a possibilidade de escolher qual ator ela vai  assistir primeiro e assim sucessivamente. Podendo inclusive assistir ao mesmo texto com atores diferenetes, ou deixar de assistir uma encenação no meio indo para outra que mais lhe interessar, já que a cada final de texto, os atores se despem do figurino e se vestem novamente indo para o outro espaço para encenação do próximo texto.  Os atores falam seu texto ao mesmo tempo e em determinado momento um ator levanta o volume de voz, buscando pra si a atençaõ da platéia.

A proposta da diretora em fazer com que o público ouça e capte vários textos ao mesmo tempo e possa absorver o que de mais importante tem em cada um , ao contrário da salvaguardar a integridade de cada texto por vez, é interessante. O grande problema é que na prática isto não é atingido. O que se vê é uma junção de informações que se misturam impossibilitando uma maior absorção destas narrativas, desvalorizando desta forma o que o espetáculo "Pessoas" poderia ter de melhor: o texto, já que a diretora fez a opção por uma encenação praticamente estática. É louvável o belo biombo que é utilizado encobrir a imagem do ator, sendo permissível apenas ouvir a sua voz, mas é de um péssimo gosto o momento em que um ator manda o texto sovando uma massa de pão. A Cenografia e figurinos de Ronald Teixeira e Leobruno Gama são interessantes e a iluminação de Aurélio de Simoni deixa o ambiente apropriado. 

Em resumo o espetáculo Pessoas passa uma idéia de que falta algo. Como se tivesse saído do forno antes da hora. Inacabado.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Crítica - Cyrano de Bergerac

Autor dramático francês, Edmond Rostand (1868-1918) especializou-se em escrever dramas românticos em verso. Mas de seus sete textos, apenas dois ainda são encenados com relativa frequência: "L'Aiglon" (1900), que estreou protagonizado por Sarah Bernhrardt, e sobretudo "Cyrano de Bergerac" (1898).
"Cyrano de Bergerac",está em cartaz na Casa de Cultura Laura Alvim. A tradução é do poeta Ferreira Gullar, que também assina a adaptação. A direção é de Renato Carrera. No elenco, Oddone Monteiro (Cyrano), Márcia Méll (Roxana), Rodrigo Phavanello (Cristiano), Ricardo Tostes (Ragueneau), Breno Pessurno (De Guiche), Eduardo Salles (Le Bret), Heitor Cassiano (Valvert/Cadete), Bruno Seixas (Lignière/Cadete), Thalita Rocha (Lise/Irmã Marta), Fátima Esteves (Aia/Madre), Antonio Rossano (Montfleury/Capuchinho/Cadete), Luciana Cazz (Cuigy/Cadete), Márcio Maia (Carbon), Felipe Bondaroski (Cadete) e Bruno Barros (Bellerose/Cadete).
Tudo no espetáculo é questionável com excessão da bela tradução e adaptação de Ferreira Gullar. O mínimo que se necessita para se interpretar um texto deste porte é de um elenco que consiga ao menos falar com naturalidade um texto em verso, pois ao criar o texto desta forma, a intenção do autor era dar a trama uma carga emocional cheia . Rostand escreveu uma peça de teatro, com ótimos personagens e ações absolutamente convincentes.
No entanto, o despreparo dos atores é tamanho que além de não conseguirem conferir um mínimo de credibilidade aos papéis que interpretam, ainda por cima erram o texto a todo momento, como principiantes na iniciação teatral.
Renato Carrera tem uma direção completamente bagunçada, com os atores começando a peça aos gritos no meio da platéia sem um mínimo de porque. Quando vão para o palco em raro momento a situação fica diferente. Estética de cena simplesmente não existe, atores em todo o momento fora do foco principal, ou seja praticamente o que se observa é uma não direção em cena. O elenco é fraquíssimo. A cenografia e figurinos podem ser considerados corretos e a iluminação é básica e pouca aproveitada pela direção. Em resumo, o texto de Rostand que é considerado uma obra-prima, carece urgente neste espetáculo em questão de uma melhor matéria-prima. 

terça-feira, 5 de maio de 2009

Crítica - Clownssicos

O programa do espetáculo Clownssicos, da Cia. do Giro,diz que no espetáculo, uma companhia de clowns decide montar grandes clássicos da literatura mundial para mostrar que não lida somente com temas "medíocres" que suscitam o riso. 
Assim, os personagens revelam toda a sua capacidade interpretativa em uma montagem contemporânea que resgata os dramas e as tragédias vividos por Édipo, Jocasta, Medéia, Romeu e Julieta, Hamlet, Ofélia, Macbeth e sua Lady, François e Nicole, Masha e Medvedenko. 
Para fazer uma ligação entre o cômico e o trágico, a montagem vale-se da metalinguagem, "o teatro dentro do teatro".


Doce Ilusão, o que se vê são atores (Adriano Basegio, Daniela Carmona, João Pedro Madureira, Larissa Sanguiné, Laura Leão, Leo Maciel) destruindo completamente os maiores clássicos mundiais, desmoralizando e ridicularizando toda uma cultura teatral calcada no que é bom.
Não dá pra entender o porque desta montagem chula e mal feita em todas as duas intenções e nuances.
A peça não traz nada de novo, interessante, crítico e relido (o que é basico num clown).
Qualquer espectador que não conheça os grandes clássicos, o que infelizmente no Brasil é uma verdade, sairá deste "Clownssicos", completamente decepcionados com os "GRANDES" Sófocles, Tchekcov, Shakespeare, etc... Estes autores seram entendidos como se escrevessem apenas banalidades, boçalidades e bizarrices idiotas e infundadas.
Uma forma apelativa e infundada de encenação do início ao fim do "Espetáculo". Na verdade um erro grotesco da diretora e autora da peça Daniela Carmona, que também no programa, se gaba de ter estudado com os grandes mestres da arte clownesca. Parece não ter entendido nada que estudou.
Enfim em todo o conjunto do trabalho só existe uma palavra a defini-lo: LAMENTÁVEL.

sábado, 2 de maio de 2009

Crítica - Cachorras Quentes


Com texto de Luis Carlos Góis e direção de Marcus Alvisi, o espetáculo Cachorras Quentes fala sobre os problemas do universo de duas amigas roteiristas hipocondríacas e que sofrem de uma síndrome de perseguição exacerbada. As duas dividem o mesmo apartamento no leblon e estão envoltas com a necessidade de entregar um roteiro para um programa de tv no qual trabalham.
Paralelamente, mais três histórias são desenvolvidas: Vanusa (Gianne), uma professora de boas maneiras, endividada e com uma longa trança, que deixa arrastar no chão como o carma de sua vida. Já a romântica e solitária Virnalise (Letícia) vê sua vida mudar ao assistir, pela janela de seu apartamento, uma cena reveladora. As irmãs hipocondríacas Iracêmia (Gianne) e Irênia (Letícia) dividem o leito do hospital e competem pelas piores doenças, na disputa pela atenção de todos. As emoções do enredo oscilam entre o drama e a alegria que as mulheres partilham entre si e que os homens desconhecem.
Tudo estaria em perfeita ordem se a peça fosse um espetáculo de esquetes distintas e não se tentasse uma conecção entre as cenas e as duas roteiristas citadas inicialmente. O que se vê é um emaranhado de cenas sobrepostas numa confusão cênica que torna impossível uma sequência lógica do enredo. Se houve alguma pretensão de se obter uma relação com os filmes Robert Altman, não se conseguiu. os cortes bruscos citados no programa do espetáculo não ficam bem resolvidos. A iluminação de Carlos Lafert e de Alvisi é básica e não ajuda em nada o ambiente a que se propõe o espetáculo, o cenário de Clívia Coen é confuso e não delimita bem os espaços/lugares onde se passam as cenas, os figurinos de Bettine Silveira são funcionais e a trilha sonora de Alvisi não personifica nenhum momento as cenas.
O que realmente se salva são as interpretações de Gianne Albertoni e Letícia Isnard que defendem muito bem seus personagens e conseguem tirar boas gargalhadas da platéia. 
Talvez o espetáculo Cachorras Quentes deveria ser revisto por autor e diretor, provavelmente consega melhores resultados caso isso aconteça.