sábado, 3 de julho de 2010

Crítica - Genet - Os Anjos devem morrer


De acordo com a sinopse do espetáculo Genet - Os Anjos devem morrer, a peça tem um cabaret-teatro como cenário e o espetáculo conta a história de madame, Divina, Mignon, Mimosa III, Nossa Senhora das Flores e Genet. Tudo isso envolto em muito suspense sórdido, em que todos querem ser Madame. Madame não tem sexo, Madame não tem cor, Madame não tem idade. Todos são como anjos. E os anjos devem morrer. O enredo trás uma trama biográfica ficcional sobre o universo de Jean Genet, pela visão do diretor e dramaturgo Ribamar Ribeiro.
Genet caracterizou-se por abalar a consciência social e a fragilidade do sistema de valores da sociedade burguesa, através de seus romances e peças teatrais sempre utilizando como protagonistas delinquentes e marginais. Ribamar não se envereda por esta faceta de Genet, aborda tão somente a pederastia de alguns de seus personagens e nos remete a pensar e acreditar que Genet (pederasta convicto) descarrega em seus personagens apenas o reflexo de sua personalidade e opção sexual. O texto do espetáculo fica tão somente em cima desta questão que em muitos momentos se torna massante e cansativo, refletindo num desgaste imenso para o espectador. As facetas mais interessantes e apaixonantes dos personagens de Genet são deixadas de lado.
Em relação a direção, também de Ribamar Ribeiro, a concepção fica no meio do caminho, sem uma definição da metodologia a ser adotada. O que se vê é uma miscelânea de estilos, o que acaba transpondo para o palco, cenas em sua mioria sujas e mal acabadas, não se caracterizando com exatidão as quebras para distanciamento das personagens e retorno para as mesmas.
O elenco formado por Carla Meirelles, Getúlio Nascimento, Júlio Cesar Ferreira, Mauro Carvalho e Renato Neves, parece inseguro em cena, errando muitas marcas, ficando várias vezes fora de foco e com um trabalho de expressão corporal um tanto preso em cena. Além de gritar muito em cena. O que se ressalta de positivo é o belo trabalho nos momentos de canto de Getúlio Nascimento, que poderia ser muito melhor explorado pela direção.
Os figurinos de André Vital são adequados e de muito bom gosto, além de funcionais em cena. A cenografia de Cachalote Mattos e Riabamar Ribeiro são de difícil manipulação e pouco acrescentam para as cenas. A iluminação de Mauro Carvalho alterna momentos interessantes contribuindo muito para a sensibilidade cênica, e momentos confusos, principalmente nas que bras de cenas.
A sonoplastia de Ribamar Ribeiro é muito boa, conseguindo em determinados momentos sustentar as cenas, dando o ritmo e pulsação adequados.
Como pode ser visto, Genet - Os Anjos devem morrer é um espetáculo que requer um melhor equilíbrio em suas funções e que com certeza deve ser revisto pela Ciclomáticos Cia. de Teatro, que deixa claro que procurou pesquisar e realizar um bom trabalho, mas que necessita de ajustes urgentes.

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