sábado, 28 de agosto de 2010

Crítica - Alucinadas


Escrita por Bruno Mazzeo, Elisa Palatinik, Fábio Porchat, Maurício Rizzo, Rosana Ferrão e Luciana Fregolente, o espetáculo leva ao extremo não apenas situações muito engraçadas, mas uma total consonância de eventuais desvarios típicos do universo feminino.
Dentre os quadros que a peça apresenta, destacam-se o o Grupo de auto-ajuda de extressadas anônimas; uma vendedora de cartão de crédito que leva sua cliente a loucura; e uma perua que agenda seu próprio sequestro.
Vitor Garcia Peralta assina a direção que tem no elencoRenata Castro Barbosa e Luciana Fregolente.
Como toda montagem estruturada em torno de esquestes, nada mais natural que alguns sejam superiores a outros. Mas de uma maneira geral todos atingem os objetivos propostos.
Vítor impõe a cena uma dinâmica em total sintonia com o material dramatúrgico.
O elenco interpreta muito bem todos os personagens desenvolvidos em cena.
A trilha sonora de Leone e Pedro Mamede é muito adequada, a luz de Djalma Amaral é bem composta, os figurinos de Domingos Alcântara e Luciana Cardoso são eficazes e a cenografia de Adriana Milhomem funcional.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Crítica - Devassa

Mais um grande espetáculo da Cia. dos Atores. Devassa investe na desconstrução de um texto original - Lulu, de Franz Wedenkind - para uma reconstrução que vai além dos limites do palco. Aliás quando o espetáculo começa os atores já estão em cena.
A mão da diretora é vista em cena durante todo o tempo, inclusive em conjunto com os atores que se encarregaram de entrar profundamente no universo do texto original antes de dissecá-lo.
No espetáculo uma Lulu que foje durante todo o tempo e quando parece que está sendo dominada dá uma reviravolta e escapa novamente, das mãos de quem a tenta controlar.
Manequins com braços e partes do corpo cortados, parte fundamental no cenário de Aurora dos Campos evidencia o objetivo do que os outros personagens querem fazer com Lulu, uma tentativa sempre frustrada pela escapada da mesma. A Luz de Maneco Quinderé que sugere o efeito de neóns, pelo fliperama e pelo piso é sempre mais intensa na personagem Lulu, realçando a luz forte e reluzente contida no interior da personagem e os figurinos de Marcelo Olinto, que trabalha em tons escuros para os demais personagens e muito coloridos para o figurino de Lulu.
Mas o espetacular em devassa reside no trabalho dos atores. Uma sintonia perfeita, onde Marcelo Olinto chama a atenção pelas transições principalmente no momento do riso descontrolado. César Augusto trabalha uma voz forte e cortante. Marina Vianna tem presença marcante. Pedro Brício muito vigor cênico. Alexandre Akerman tangencia pelo humor refinado. Sem falar na maravilhosa Bel Garcia, sensacional no descontrole e obsessão de sua personagem por Lulu.

Crítica - Monólogos da Marijuana


Uma repetição de uma fórmula, que começou com os Monólogos da Vagina. Apoiando-se em temas polêmicos, Monólogos da Marijuana, tratam com certo humor, uma série de depoimentos sobre o ato de fumar maconha.
A estrutura do espetáculo é composta por três atores no palco que divagam sobre os condicionantes, legais, medicinais e vivenciais do consumo da erva. Frases curtas são lançadas diretamente para a platéia pelo trio de atores, sempre com um tom provocativo, tentando quebrar preconceitos.
Com o auxílio da comédia circulam pelo ambiente e comportamentos associados à droga, falando sobre seu uso e consequências.
Não existe uma dramaturgia muito elaborada sobre esse tema único e a temática acaba por se esgotar em determinado momento, depois de algumas piadas e observações engraçadinhas, o que acaba fazendo com que o texto não se sustente como cena viva.
Devido a dificuldade de ser ampliado cenicamente o formato do monólogo, um filme com personagens que vivem algumas experiências com a erva é acrescentado ao espetáculo.
A direção de Emílio Gallo se concentra no histrionismo dos atores, que buscam movimentar as falas, passadas de um a outro num afinado jogo verbal. Marcos Winter está excessivamente irônico, Stella Brajterman fica muito na caricatura, e Felipe Cardoso está a vontade e parece se divertir muito em cena.
Em relação a parte técnica, luz, cenário e figurinos não são dignos de nota, por não acrescentarem nada cenicamente.

sábado, 3 de julho de 2010

Crítica - Genet - Os Anjos devem morrer


De acordo com a sinopse do espetáculo Genet - Os Anjos devem morrer, a peça tem um cabaret-teatro como cenário e o espetáculo conta a história de madame, Divina, Mignon, Mimosa III, Nossa Senhora das Flores e Genet. Tudo isso envolto em muito suspense sórdido, em que todos querem ser Madame. Madame não tem sexo, Madame não tem cor, Madame não tem idade. Todos são como anjos. E os anjos devem morrer. O enredo trás uma trama biográfica ficcional sobre o universo de Jean Genet, pela visão do diretor e dramaturgo Ribamar Ribeiro.
Genet caracterizou-se por abalar a consciência social e a fragilidade do sistema de valores da sociedade burguesa, através de seus romances e peças teatrais sempre utilizando como protagonistas delinquentes e marginais. Ribamar não se envereda por esta faceta de Genet, aborda tão somente a pederastia de alguns de seus personagens e nos remete a pensar e acreditar que Genet (pederasta convicto) descarrega em seus personagens apenas o reflexo de sua personalidade e opção sexual. O texto do espetáculo fica tão somente em cima desta questão que em muitos momentos se torna massante e cansativo, refletindo num desgaste imenso para o espectador. As facetas mais interessantes e apaixonantes dos personagens de Genet são deixadas de lado.
Em relação a direção, também de Ribamar Ribeiro, a concepção fica no meio do caminho, sem uma definição da metodologia a ser adotada. O que se vê é uma miscelânea de estilos, o que acaba transpondo para o palco, cenas em sua mioria sujas e mal acabadas, não se caracterizando com exatidão as quebras para distanciamento das personagens e retorno para as mesmas.
O elenco formado por Carla Meirelles, Getúlio Nascimento, Júlio Cesar Ferreira, Mauro Carvalho e Renato Neves, parece inseguro em cena, errando muitas marcas, ficando várias vezes fora de foco e com um trabalho de expressão corporal um tanto preso em cena. Além de gritar muito em cena. O que se ressalta de positivo é o belo trabalho nos momentos de canto de Getúlio Nascimento, que poderia ser muito melhor explorado pela direção.
Os figurinos de André Vital são adequados e de muito bom gosto, além de funcionais em cena. A cenografia de Cachalote Mattos e Riabamar Ribeiro são de difícil manipulação e pouco acrescentam para as cenas. A iluminação de Mauro Carvalho alterna momentos interessantes contribuindo muito para a sensibilidade cênica, e momentos confusos, principalmente nas que bras de cenas.
A sonoplastia de Ribamar Ribeiro é muito boa, conseguindo em determinados momentos sustentar as cenas, dando o ritmo e pulsação adequados.
Como pode ser visto, Genet - Os Anjos devem morrer é um espetáculo que requer um melhor equilíbrio em suas funções e que com certeza deve ser revisto pela Ciclomáticos Cia. de Teatro, que deixa claro que procurou pesquisar e realizar um bom trabalho, mas que necessita de ajustes urgentes.

sábado, 12 de junho de 2010

Crítica - A Carpa

Com Ivone Hoffmann e Carolyna Aguiar no elenco, a peça coloca em questão uma geração que rompeu a tradição e está em crise. As duas atrizes se revezam em quatro papéis, em duas épocas e países diferentes, Brasil e Rússia. Uma mãe que carrega ainda dentro de si as tradições de seu país e dos guetos e uma filha aculturada que se casou com um não judeu. A ação transcorre num único dia, a vespera da Páscoa Judaica. as duas se confrontam devido as visões diferentes uma da outra em relação ao mundo.
As autoras Denise Crispun e Melanie Dimantas dizem que a peça foi escrita a quatro mãos, cada uma trazendo suas histórias e de seus familiares, porém coladas parecem uma só história.
O espetáculo gira mesmo em torno do encontro afetivo de mãe e filha. As duas sempre se amaram, mas este amor foi afetado por suas diferentes posturas. O que fica para a platéia em relação a esta situação, é que não existe uma verdade absoluta e que o diálogo é sempre a melhor solução para todas as questões pendentes.
O diretor Ary Coslov impõe à cena uma dinâmica simples e eficiente, totalmente centrada nas relações entre as personagens, irretocavelmente interpretadas por Ivone Hoffmann (mãe) e Carolyna Aguiar (filha), que defendem suas colocações com uma verdade única.
A iluminação de Aurélio de Simoni, os figurinos de Kalma Murtinho, o cenário de Marcos Flaksman e a trilha sonora também assinada por Coslov, são excelentes e ornamentam de forma muito adequada o ambiente do espetáculo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Crítica - Antígona


Antígona, de Sófocles é uma das tragédias mais lidas e montadas em todo o mundo. Lealdade, amor e política são alguns dos principais temas abordados neste clássico da literatura mundial.
Na montagem do Grupo Cortejo, que é formado por ex-alunos da UNIRIO, em cartaz na Casa da Glória, Edson Zille e Rafaela Wrigg responsáveis pela adaptação do texto, apostam na modernidade traçando um paralelo estético entre as culturas grega e africana. A veneração aos deuses e os sacrifícios feitos em nome deles, são encenados ao som de uma voz coral, que interpreta canções que têm como base os ritmos africanos, com músicos em cena que conduzem todo o espetáculo.
Edson Zille que também assina a direção, optou por um espaço alternativo e intimista, colocando a platéia como parte da trama, sendo testemunha privilegiada dos fatos. A encenação começa ao ar livre em tom de celebração e é onde tem seu momento mais interessante com ritual cênico bem pensado, belíssimo plasticamente e de proposital preparação para as cenas subsequentes no salão. A sequência do espetáculo na parte interna do espaço já não consegue o mesmo êxito. O que se vê são marcações obvias e previsíveis e trocas de roupas demasiadas em cena, para os atores sairem e entrarem nas personagens, tornando as cenas bastante cansativas. Zille peca também em não buscar uma unidade na forma da interpretação do texto pelo elenco. Alguns atores optam por falar o texto de forma coloquial, já outros falam de forma extremamente clássica e impostada, fazendo com que os personagens pareçam não viverem uma mesma época. O elenco deixa transparecer também, uma certa insegurança no texto, com vários erros no mesmo e problemas na dicção.
O cenário de Nello Marreze é funcional. Os figurinos de rafaela Wrigg são confusos e não se definem nem pelo clássico, nem pelo conteporâneo. O grande acerto na ficha técnica cabe a excelente direção musical de Carlos Rufino, Gustavo Pereira e Felipe Antello.
Mesmo com os problemas citados é louvável a entrega e esforço de todo o elenco se doando ao máximo na tentativa de realização do espetáculo da melhor maneira que podem no momento.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Crítica - Babel de Messalinas

O maior expoente do Teatro Épico, Bertold Brecht, com certeza ficaria feliz ao ver o espetáculo Babel de Messalinas, da Cia. Teatro da Estrutura, afinal o diretor Márcio Zatta utiliza as técnicas brechtinianas na peça com muita habilidade e segurança. O que se vê nas cenas - de excelente desenho cênico - de Babel de Messalinas é praticamente o emprego de tudo o que é abordado dentro do Teatro Épico: Distanciamento da personagem; o ator como crítico das cenas; estranhamento; exposição do urdimento mostrando os bastidores e a busca da reflexão da platéia sobre temas sociais de relevância para a sociedade.
O Texto, que também é escrito por Zatta, narra a história de cinco prostitutas, Jesebel (Helen Maltasch), Maria Madalena (Cíntia Travassos), Ana Calderon (Amélia Cristina), Divine Brown (Agatha Duarte) e Satine (Jeane Dantas), que discutem, através de uma visão muito interessante, sobre a luxúria, morte, violência contra a mulher, o incansável sonho do homem de se igualar aos pássaros e a banalização do amor. Estes temas são lançados para a platéia, hora de forma irônica, hora de forma cômica e hora de forma seca, dura e massacrante, conduzindo sempre o público à realidade.
O elenco, muito coeso, com uma preparação corporal impressionante, permanece no palco durante todo o tempo e consegue grande desempenho de suas personagens, utilizando variações de voz, diferenciando os momentos em que estão em cena como personagens, dos que estão em cena como atrizes.
A iluminação de Diego Sant'ana é bem desenhada, criteriosa e marca de forma eficaz a independência das cenas.
Márcio Zatta assina também uma trilha sonora que segue dentro dos padrões épicos e um figurino que evidencia bem os dois lados que todo ser humano possui: O das aparências e o real.
Babel de Messalinas é uma ótima opção para quem quer assistir um espetáculo inteligente e que faz pensar.