segunda-feira, 20 de abril de 2009

Crítica - Alzira Power

A relevância deste texto de contestação que marcou uma época, e sua força teatral resiste muito bem à passagem do tempo, afinal desde que foi escrito já se passaram quatro décadas.. O segredo, é claro, está no fato de Bivar não ter optado pelo didático (tão em moda naquele tempo), mas, sim, por uma ação e personagens que dispensam explicações ou mensagens: o poder de Alzira se revela em termos da realidade — devidamente teatralizada e desmedida — das incontáveis Alziras aposentadas e solitárias, reprimidas e condicionadas desde o berço a obedecer ao mundo dos homens. Aliás o comentário final do texto a respeito do que a platéia vê e ouve continua mais do que válido.

A pesar das limitações do espaço, a direção o utiliza bem com uma boa disposição cênica. O cenário de Teça Fichinski cria todo um apartamento em perfeita sintonia com a vida e o temperamento da protagonista, e os figurinos, também seus, completam a unidade do todo. É boa a iluminação de Paulo David Gusmão, e muito boa a trilha de Caíque Botkay

A direção de Gustavo Paso é orientada pelo tom de Bivar (autor do texto) e explora bem a luta pelo poder entre Alzira e Ernesto, tudo sempre em uma calculada dimensão acima do real, de modo a aproveitar bem o que o texto lhe oferece.

Cristina Pereira explora bem os delírios ressentidos de "Alzira" com suas repentinas mudanças de tom e ritmo, que em última análise deixam claro que tudo o que faz ainda é pouco para expressar o ressentimento de toda uma vida de obediência e opressão; e Sidney Sampaio, da o tom certo para seu personagem, não servindo apenas de escada para Alzira. 

Alzira Power, mesmo sendo escrita num período de ditadura, mostra que está muito atual e deve ser vista por todos, mesmo os que não viveram aquela época.

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